As duas faces da vida(Frnacisco Pereira) Certo dia eu estava em casa,
Então resolvi bater asas,
Ou seja, sair um pouco,
Eu vi cenas memoráveis
E outras tão lamentáveis
Que quase me deixou louco
E nesta minha saída
Eu vi os contrastes da vida,
Entre os flagelados e os nobres
Eu vi o inevitável
Vi a vida miserável
Que vive o povo pobre
Primeiro eu vi seu Deco,
Que é o dono do boteco
Mais popular da vila,
Mais popular do que ele
É Dequinha, a filha dele,
Olha! E que filha!...
Não que ela seja depravada,
E ande pelas calçadas
Fazendo o que não é certo,
Mas usa uma mini sai...
Não há homem que não sai,
Na rua pra ver de perto
Mas dela não vou falar
Se o seu Deco me pegar...
Nem sei o que acontece...
Mas o que eu vi logo à frente,
Corta o coração da gente,
E isso me entristece.
Passei em uma lanchonete,
E vi uma garçonete
Servindo elegantemente,
Dois boizinhos arrogantes
Por sinal, ignorantes,
Sendo inconvenientes,
Isto é um absurdo,
A princesa servindo os súditos,
Observando, eu pensava...
Boizinhos meia tigela,
Enfrente um Cinderela
Tratando-a como uma escrava,
E a lanchonete, era chique!
Do lado de uma butique,
Que só madame vai lá,
Mas veja o que vos digo,
Enfrente vi um mendigo,
Sentado a mendigar
Logo um pouco adiante,
Aqueles prédios gigantes
Em condomínio fechado,
Para ninguém assaltar,
Segurança particular,
E câmeras por todo lado
Enquanto por outro lado
O trabalhador coitado,
Sofre assalto to dia,
Por falta de segurança
Acontece esta lambança
Dia e noite, noite e dia...
É tudo grandeza pura!
Piscina na cobertura,
E sauna, no subterrâneo,
Na periferia, pra você ver;
Falta água pra beber,
Cozinhar e tomar banho
Continuando minha andança...
Encontrei uma criança
Que voltava da escola,
Mas do outro lado da rua
Eu vi uma seminua
Descalço pedindo esmola
Me chamou muito atenção,
Um parque de diversão
Do lado da marginal,
Muitas crianças sorrindo
Brincando se divertindo
Uma alegria geral
Mas pra fora do portão,
Vi outra situação
Que até me fez chorar,
Uma criança clamando,
Pedindo e implorando,
Pro guarda deixar entrar
Entre os prédios da cidade
Passei por cinco faculdades;
E aqui vai meu desafeto:
“Não consigo entender,
Como é que pode ter
No Brasil, analfabeto”!
Contraste duro e cruel,
Um homem catando papel
Enfrente uma faculdade,
Motivo; não sabe ler,
Até que quis aprender,
Faltou oportunidade
Mas apesar de esquecido,
Pra não se tornar bandido
Enfrenta esta jornada,
E a fama que tem no mundo:
Maconheiro, vagabundo,
Preguiçoso e pingaiada,
“É um enorme desprezo,
E se vacilar vai preso,
Sabe qual a acusação?”
“Além do que foi citado...
Por dar endereço errado,
E não ter uma profissão.”
Mas eu vi coisa pior!
Que além de sentir dó
Sentir um grande desgosto,
Passando por uma favela
Vi crianças que moram nela,
Brincando em água de esgoto
Será que isso está certo,
Esgotos ao céu aberto,
Formando córregos entre barracos?
Amontoados de madeiras
Que mais parecem trincheiras
Como veredas de ratos.
No país do futebol
Eu vi em cada farol,
Crianças pedindo pra sobreviver.
Ser penta campeão do mundo...
É um orgulho profundo!
Mas eu pergunto: porque?
Bate no vidro fechado:
“Seu moço dar um trocado,
Um trocado, por favor,
O meu pai deixou agente,
Minha mãe está doente
Dar um trocado senhor...”
Toda nossa esperança
Está em nossas crianças,
E nem sabemos cuidar,
Passa anos e mais anos
Sai beltrano entra fulano
E nada de melhorar
São senas muito doidas
Estes contrastes da vida
Que muitas vezes passamos...
Como rios que as águas não param,
Cicatrizes que não saram,
Volta e meia nós lembramos...
Revoltado com o que vi
Chegando em casa escrevi,
As duas faces da vida,
Quem sabe estes rabiscos
Acorda os nossos políticos,Pra nossa gente sofrida.
Francisco Pereira Gomes