23 junho, 2005

Colunista.

Presente de Natal.
(Alessandro Buzo)

Os sete mesês que Gustavo passou desempregado, vivendo de bicos não foi nada perto deste mês de dezembro. Com a proximidade do natal ele começou a se sentir mal, uma coisa que pegava ele de dentro para fora, atê sua esposa Vilma se ligou e tentou animar o seu amor, mais nada tirava da cabeça de Gustavo que a quinze dias do natal ele não tinha um real no bolso, seus dois filhos Bruna de 6 anos e Beto de 4, queriam seus presentes como todo criança, ainda mais com a avalanche de propagandas na TV, Gustavo imaginava o seu natal sem Perú, sem panettone, sem ter o que comer.
Seu orgulho estava muito ferido, mas não o suficiente para pedir ajuda a familia de Vilma que são um pouco melhor de vida e nunca aceitaram a união dela com Gustavo. Ele saiu no dia 6 de dezembro de pé do Itaim Paulista atrás de um emprego ou um bico talvez, algo que aliviasse sua dor e sua revolta, foi sentido Itaquaquecetuba, passou m algumas fabricas e nada, seguiu andando e procurando, nem pensava na fome que sentia mas imaginava a fome que sua familia sentia em casa neste momento. Retornou pior do que saiu, chegando em casa encontrou a esposa feliz, ela tinha ganho uma cesta basica num projeto social e preparava o almoço, de mistura uma lata de atum que veio na cesta.
Gustavo comeu um pouco e saiu, queria mudar essa situação, procurou Neto, Breno e Foice, seus ex parceiros do crime que ele largou para trás quando casou-se com Vilma. Os amigos receberam Gustavo no barraco do Foice, ele passou a situação e os amigos apesar de sentidos por ele ter sumido lhe ofereceram ajuda financera, mais Gustavo não queria ficar devendo favor e disse: - Quero ir com vocês numa fita, não quero dinheiro emprestado. - Mas você não é mais disso mano. Disse Breno. - A ocasião faz o ladrão. Retrucou Gustavo.
Os amigos concordaram e Breno disse: - Guga (era como ele era chamado no crime), tem um roubo de uma carga valiosa que a gente vai grudar e levar direto pro receptador, vai render 20 mil na hora em dinheiro, você pega os seus cinco mil e volta para sua familia que aqui não é mais seu lugar, todos concordam ? E todos concordaram, a cena seria na quarta e a fita estava toda dada, eles tomariam o caminhão em Cumbica (Guarulhos) e levariam até o Parque Novo Mundo. Para aliviar um pouco a barra, Gustavo aceitou 50 reais do Foice, pagaria na quarta.
As sete da manhã do dia 8 de dezembro, Breno, Foice, Neto e Gustavo se encontraram em frente a estação do Itaim Paulista, o carro que iriam usar tinha que ser roubado na hora. Foram para uma rua paralela à Av Marechal Tito e avistaram uma mulher tirando o carro da garagem, um Palio. Renderam ela sem problemas e partiram para o local da cena, o plano era simples.
Por volta das oito e meia, iria passar por ali um caminhão vermelho com um cristo no centro do vidro, esse era a vitima, eles renderiam o motorista e o ajudante, o Palio seguiria o caminhão até perto do local de entrega, o motorista e o ajudante estariam trancados no porta malas, proximo ao Parque Novo Mundo eles se separavam a Gustavo e Foice no Palio abandonariam o carro longe, enquanto Neto e Breno entregavam a carga e recebiam a grana.
No local marcado deu oito e meia, oito e quarenta e nada, passava alguns caminhões vermelhos mais nenhum com o Cristo no vidro, até que as cinco para nove surge o caminhão, ao parar no farol o Neto e o Breno agiram, cada um entrou por uma porta armados. Não ouve reação e seguiram para uma rua menos movimentada, o palio seguindo.
Pararam a colocaram com dificuldades os dois no porta malas do palio que é pequeno. Seguiram o caminho normalmente e o palio não ficava tão proximo para não chamar a atenção. Se pintasse sujeira Foice e Gustavo tinham que chegar chegando, matar se for preciso. Mas a escolta seguiu normal até o posto Tigrão na Via Dutra, altura do Parque Novo Mundo, então o caminhão saiu da pista e o Palio acelerou, muito para frente Gustavo estacionou e deixaram o carro com os dois presos parado numa rua qualquer e partiram.
Chegaram na padaria em frente a estação do Itaim e Neto e Breno tomavam cerveja, pediram mais uma e dois copos, depois foram para o barraco de foice e dividiram a grana, Gustavo pagou o galo que foice emprestara para ele, depois agradeceu os amigos e partiu.
Comprou presentes para mulher e para os filhos, foi no Da Avó e encheu o carrinho de guloseimas, Perú, panettone não podia faltar, queijo, refrigerante, cerveja, biscoitos, danones, mistura de todo tipo e de taxi chegou em casa, a Vilma que desde que ele saiu não parou de rezar abriu um sorrizo ao ve-lo, mesmo não tendo concordado com o que ele tinha feito.
Tiveram uma grande ceia de natal no dia 24 para dia 25, no dia de natal ele fazia um churrasquinho. No dia 24 a casa caiu para o receptador do caminhão que não resistindo ao pau que tomou delatou o Breno que era o unico que ele conhecia e também o unico que ele sabia onde morava, como o motorista do caminhão disse que foi dois homens, a policia queria que Breno já preso desse o parceiro, ele apanhou por horas até dizer: - Eu levo vocês lá.
Sabendo que Neto e Foice não poupariam ele em caso de traição e não aguentando mais apanhar ele levou a policia até a casa de Gustavo que foi preso na frente da familia em pleno churrasco. No camburão Gustavo olhou para Breno e perguntou: - Porque me dedurou. - Eles pensam que foram dois e tinha que dar alguém senão eles me matariam. Gustavo esta preso no 50 DP e Breno foi transferido para o 22 DP porque os presos queriam pega-lo. Gustavo olhou para cela lotada e lembrou do rosto de sua mulher chorando, pensou: - Se Deus me tirar dessa eu largo de vez o crime. Mesmo apanhando Gustavo não delatou ninguém, no 22 DP Breno deu os outros dois parceiros para os homi, Foice foi preso e Neto desapareceu sem deixar noticias.
Alessandro Buzo é autor de O trem e Suburbano Convicto.
Atualmente escreve o seu terceiro livro. O romance contemporâneo
"Graduado em Marginalidade" do escritor Sacolinha
terá um prefácio assinado pelo Alessandro Buzo.

Sobre choro e nó na garganta

Trecho do livro "Dente-de-leão: a sustentável leveza de ser" - Escritor Sacolinha