07 janeiro, 2005

Conto

Luto
Casaram-se sob a promessa de serem felizes para sempre.
Ele, um sujeito de meia idade. Bem sucedido na área financeira de uma grande indústria.
Ela, uma mulher cujo sonho era ser boa esposa de cama e mesa. O namoro e noivado correram sem mais intimidades, tudo no maior respeito.
José, o nome dele, dedicado ao trabalho, mal arranjava tempo para diversões. Tanto que não tiveram lua de mel. O casório aconteceu no sábado, de maneira simples no cartório. Apenas um coquetel para a família e os chegados. As responsabilidades não permitiam que ele estivesse ausente do emprego, já na segunda feira.
Quando enfim estiveram sozinhos no quarto de núpcias, ela foi saborear um largo banho e ao retornar o encontrou em sono profundo. Tentou de modos vários animá-lo, mas desistiu diante do sonolento quadro.
No domingo, José saiu para saudar alguns amigos. Maria visitou a mãe e nada comentou sobre o acontecido e à noite conservando o branco das roupas e vestes íntimas, aguardava ansiosa pelo esperado momento. Porém, José, alegando cansaço, simplesmente deu um beijo em sua face, virou de lado e dormiu.
De volta à rotina do trabalho, a situação manteve-se sem alterações. Ela, disposta, pensou que o branco dos trajes não o estimulava. E assim trocou o branco pelo verde, mas a esperança também se diluiu no mesmo bocejar.
Persistente fez arranjos em azul e a sorte continuou a mesma. Tentou o amarelo, depois o vermelho, o violeta, o marrom, e noite após noite sempre o mesmo ressonar.
Passado mais de uma semana com dúvidas pairando na mente e o arco íris já por se esgotar, Maria resolveu radicalizar.
Como de hábito, José chegava tarde. O serão na empresa o mantinha trabalhando até às 22 horas. Chegando em casa nem passou pela cozinha, foi direto ao banheiro tomar o banho. O lar num silêncio imóvel. Trajando cueca e camiseta atravessou a sala e adentrou ao quarto. Ficando surpreso com o tom cinza e preto da iluminação, no véu, no chapéu que Maria trajava e em toda sua indumentária; inclusive na colcha e fronha sobre a cama onde ela aguardava sentada.
Com o impacto, José assim disse: - “Maria o que é isso, o que significa essa coisa fúnebre?”.
Desconsolada, a esposa respondeu: - “Para um pinto morto, somente uma buceta de luto!”.

Marcopezão (Cooperifa)

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Sobre choro e nó na garganta

Trecho do livro "Dente-de-leão: a sustentável leveza de ser" - Escritor Sacolinha