01 dezembro, 2006

Nova poesia

SOMBRAS QUE SURGEM
(Sylvio Neto)


Neste lar cretino que habito
Sou prisioneiro de um quarto mudo
Sem quadros e estatuetas de barro
Sou o amado de um útero já infértil
O agressivo pastor da revolta
Dono de um sono perseguido e histérico
Quero as rosas de meu jardim desfeito
E um coração bem maior que o meu
Não quero os milagres vendidos em igrejas
Quero os que estão no coração
Por isto. Quero um maior no peito
Uma taça de vinho e uma luz fria
Lembranças tristes de um amor bandido
São meus parentes mais próximos
Nas horas perdidas que avançam na noite
quero correr pelas ruas
Pois ainda sou dono delas
Se são minhas em gozo e em lágrimas
São suas próprias em sangue e movimento
Senhora de pensamentos perdidos
E de pragas plantadas em muros, bueiros, calçadas
Grande boca apaixonada sussurrando a dizer
Sou o túmulo do perdido a vagar
E em que mundo eu me quero encontrar
E em que canto eu me quero a descansar
Talvez em teu seio pequeno
Quem sabe em tua boca grandona
Enroscado em sua língua macia
Apertado em seus braços quão filho embalado
A sonar
Livra-me da dor insana
Das noites corridas em vinho
Embala-me em tua pele de linho
Não me deixes na rua sozinho
E não te assustes se volto a pedir
Quão mendigo sem quarto de dormir
Quão menino exigindo para dormir canção
Pois sei que os milagres estão no coração

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Sobre choro e nó na garganta

Trecho do livro "Dente-de-leão: a sustentável leveza de ser" - Escritor Sacolinha