16 julho, 2007

Novo conto

HEMORRÓIDA
Por: Rodrigo Ciríaco

Bença mãe.
Deus te abençoe meu filho.

Ô mãe, posso te fazer uma pergunta?
Claro.
O que é hemorródia?
Ai! Olha só, cortei meu dedo. O que que cê perguntou menino?
O que é hemorródia mãe?
Oxi, onde é que você tá ouvindo essas coisa agora?
Na escola.
Na escola?
É, na escola mãe.
Ah, tá. E sobre o que vocês estavam falando na escola pra falar de hemorróida?
Do cú.
Olha, tu cale essa boca que eu enfio essa esponja com sabão e tudo.
Credo mãe.
Isso é jeito de falar comigo? Explica essa história direitinho.
Ah, é que foi um escritor lá na escola fazer uma palestra sobre literatura, só que não tinha nenhuma sala sobrando pra gente trabalhar, aí a gente ficou na sala da direção. Depois de um tempo a secretária da escola bateu na porta e perguntou: -“Quem é que tem hemorródia aqui?”
É hemorróida.
É, isso memo. Aí o Júnior perguntou: -“O que é hemorródia tia?” Ai ela respondeu: -“É um negócio que dá no meio do olho do...
Olha a esponja!
Mas foi a secretária da escola que disse o palavrão mãe.
Tá, mas você não precisa repetir. E porque ela fez isso?
Ah, num sei. Parece que o Jéferson e o Alife tavam apertando o botão de um interfone que liga a direção lá na sala dela. Só sei que ela tava bem brava.
E o professor, o que fez?
Fez nada. Parece que ele ficou tão surpreso quanto a senhora. Mas ele não quis enfiar uma esponja na boca dela com sabão e tudo.
Devia. Isso é coisa que se fale. Eu vou na escola amanhã esclarecer esse assunto. E você, esquece isso viu.
Tá bom.

Ô mãe?
Quié? Não vem com outra pergunta malcriada que eu te quebro os dentes hein.
Não. É que eu já sei o que vou ser quando crescer.
Ah é, que bom. E o que vai ser?
Escritor.
Ai meu Deus, mais essa. Deixa de bobagem menino. Isso é coisa pra rico. Coisa pra quem tem tempo, tem dinheiro, tem cultura.
Mas mãe, o escritor que foi lá na escola disse que é pobre. E da periferia.
Aí, mais um motivo. A gente tem que trabalhar muito pra sair desse buraco meu filho. Ter uma vida melhor, fica rico. Livro não enche a barriga de ninguém não. Só trabalho, trabalho, trabalho. Aí sim a gente enriquece. Entendeu?
Entendi.

Ô mãe?
Lá vem. Você não quer brincar na rua não Filipe? Ver televisão, soltar pipa, brincar de carrinho? Eu tenho que preparar a janta do seu pai menino.
Então, é sobre isso. O papai sai todo dia de madrugada né mãe?
Sim.
E só volta bem de noitinha né?
É.
O que ele faz?
Como assim, o que ele faz menino. Você tá com onze anos agora, nem bem era nascido seu pai já fazia isso e você não sabe o que ele faz ainda? Ele trabalha ora. Trabalha duro, trabalha muito. Segunda à sábado na firma do Dr. Carlos.
Ah.
E por que a pergunta?
É que eu queria saber: por que é que a gente ainda não é rico?

Xô daqui. Sai. Vai brincar na rua menino!

Poesia nos muros

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