Mais uma vez, puxo a cadeira, abro a espécie de portfólio e, de lá, tendo vista que pretendo escrever, hoje, mais uma página de na mais crassa liça de escritor, retiro as minhas mais singelas anotações, e, assim, me darei ao luxo de, primeiro, pensar no que desejo grafar no papel.
Em seguida, não me dou por vencido, pego a caneta que, alheia a tudo, nada mais, nada menos, repousa na peça que, a princípio e particularmente, intitulo porta-lápis, estico sobre o tampo da mesa uma folha de sulfite e não me importo com o seu fabricante, mas que a extraio do pacote – é pretendo escrever um novo conto.
Boa idéia!
Um novo conto para ganhar alguns contos?
Sim; um novo conto...
Mas, conto sobre o quê, ou, sobre quem?
Bem; creio que me é o tempo oportuno para escrever sobre as peripécias da Maricota, e, cuja identidade, a menos que me provem ao contrário, pode ser acobertada ao longo do emaranhado de fonemas, de caracteres romanos e tudo mais, mas pode permanecer ocultas nesta seqüência cronológica das vernáculas.
No entanto, é-me necessário frisar – o que se vai expor não tem e jamais teve como cerne a finalidade de denegrir, em primeira instância o simulacro, e, depois, em segunda instância, o moral ilibado, até então, de Maricota; atrevida, alegre, faceira, bonita, ousada e sagaz e mais alguns [as] que, estranhamente, se deixa de revelar.
No dia-a-dia da eternidade em que vivemos, mal a luz da sol é-nos graça e, entrementes, fornece-nos os espasmos da sua energia e do seu calor; Maricota se esperta em todas as manhãs e se põe de pés, pois costuma pular da cama antes mesmo que as estrelas vespertinas desliguem, se é o fazem, os seus abajures multicores, se dobrem a intensidade da luz solar, e, finalmente, se recolham para dormir o justo sono do repouso.
Não obstante, é-nos importante frisar que, durante o dia, a Maricota arca com as responsabilidades de cuidar da alimentação dos filhos, do suprimento de água, da saúde, dos ensinamentos da vida, e, evidentemente, do moral ilibado e das regras do bom viver mediante interessantes conceitos sobre o moral e as Regras do Bom viver mediante conceitos apensos, ainda que de forma simbólica, à conduta.
Na vila onde reside, Maricota é benquista pelo seu espírito de honestidade e, também, da fidelidade contumaz ao Juvêncio, esse mesmo que, ainda que se quisesse; não se pode, evidentemente, negar; de vez em quando promove das suas escapadelas extraconjugais.
Todavia, Maricota é um simulacro santificado de fêmea, não obstante, Juvêncio mais se assemelha a um quadro – não importa se de Renoir, Picasso ou Di Cavalcanti, porém respingado de tintas inoportunas, e, por isso mesmo, profundamente, inverossímil à realidade.
Contudo, o que se pode asseverar é que é a vida uma imensa e verdadeira incógnita – é mesmo uma caixeta de surpresas, sujeita a influir; até mesmo nos ditos intangíveis do moral.
Estamos em uma segunda-feira; ela termina, vem a terça-feira, segue-nos a quarta-feira... – o tempo voa, os dias se sucedem; uns após os outros – é um sábado!
Do apogeu de sua estranha órbita, o lua astro imponente, enigmático em sua forma e aparência, derrama sobre nós não agora um manto de orvalho prateado, mas um manto de um tênue azul; quase turquesa, oriundo do chamado lua azul característico do fenômeno do segundo luar cheio, no mesmo mês...
Absorto nesses mais profundos e clássicos elementos da vida humana, não se pode deixar de apreciar quando, as primeiras estrelas lavam os rostos na vibração elétrica do universo, em seqüência, piscam os olhos de alegria como se fossem duas singelas contas deitadas no fundo do rio, e, oferta a boa noite a toda espécie de vida – quer seja a vida movente ou quer seja a inerte; a vida que inexiste.
Os filhos, como bons meninos dormem cedo e Maricota, agitada, sem toca CD, televisor ou aparelho de DVD, caminha, incessantemente, da direita para a esquerda, do norte para o sul, e, do leste para o oeste, ainda que, apenas, no pensamento, nos obscuros logradouros de uma cidade considerada natureza, mas, não necessariamente nessa ordem, ali mesmo, no interior da choupana.
De repente, veste o melhor dos seus vestidos, calça as sandálias da simplicidade, pinta os lábios e as unhas de um tom avermelhado, deixa as mãos ao natural, enlaça-se na bolsa que o Pierre Cardin criara, especialmente, para ela e sai.
O que irá fazer?
Passar o tempo na Augusta ou na São João?
Que importa?
Maricota é casada com o Juvêncio, não é menor de idade, é dona do seu nariz, não deve explicativos a quem quer que seja, e, como todo possui o livre-arbítrio...
Logo, o, o, o, o, o, o...
O adiantado da hora...
O adiantado da hora é o único detalhe que a minha mente, corrupta como a de todos nós, insiste em relembrar; Maricota tão cândida e pura o que fará nos escaninhos da vida?
Bem, é véspera do natal e como de costume me apronto e vou à igreja.
De fato já se passam vinte e oito minutos e trinta e cinco segundos e absorto, a ala leste do templo, de tudo me desconcentro perante as gentes de todas as idades.
Uma força estranha converte a minha vontade, manifestação livre arbítrio em, simplesmente, instinto quando, incondicional e instintivamente, ergo os olhos que, enfim, repousam na imagem de Maricota sorridente e serena.
Que faria, ali, àquela hora, pergunto ao meu cérebro incontinente...
Ele, atendendo; rebusca nas mais crassas reflexões e coordena a frase, espera fechar o semáforo da Farah Salim Maluf e detona a bomba relógio da resposta... – [Maricota não é a leviana que o meu intelecto, erroneamente, pré-julga, e, toda contente vem assistir a missa do galo Juvêncio...
Entenda quem puder entender!