08 novembro, 2009

O TEMPO NÃO PARA

Velho profeta

Na cidadezinha onde eu cresci, as crianças brincavam nas calçadas, corriam nos jardins das pequenas praças. As nuvens brincavam de pique- esconde com o sol, o céu era mais azul e tinha mais estrelas.
A lua rainha da noite reinava absoluta como se abraçasse cada colina, enquanto o velho relógio da coluna no centro da cidade não contava os minutos, mas meditava cada segundo, entristecido, prevendo o futuro onde tudo aquilo ficaria no esquecimento, como um retrato velho em preto e branco, desbotado pelo tempo que as imagens só tomam vida e cores nas lembranças de quem foge do presente, com medo do futuro, volta ao passado para ser feliz.
E o velho relógio de hora em hora, com suas badaladas anunciava como os profetas anunciavam a vinda de Cristo, que o tempo estava próximo, até que chegou.
E hoje, muitos dizem que gostaria de viajar para, New Yorque, Londres, Madri, Tókio etc. enquanto eu gostaria de voltar à cidade onde vivi, para correr pelas ruas, por cada beco, tomar banho no Carius, jogar bola no campo, e depois deitar em baixo do velho pé de cajá, sem camisa de braços abertos, sentido o vento.
Oh meu Deus, e não posso, ela não existe mais, o progresso a destruiu. Só o velho relógio continua na velha coluna, profetizando para as próximas gerações, sabe-se lá, Deus o que.



Francis Gomes

Sobre choro e nó na garganta

Trecho do livro "Dente-de-leão: a sustentável leveza de ser" - Escritor Sacolinha