22 novembro, 2004

Poesia


A noite te convida pra dançar

África mãe, Brasil filho
O leite do mundo habitou as suas tetas
Mamilos perfeitos acalentados de açoite.
Seu ventre, sempre foi livre
Gerando toda a história desse universo mal agradecido
Se ser mãe é dádiva de Deus
Então a África é o berçário onde Ele nasceu.
Suas crianças, dotadas de grande picardia
Lançaram ao mundo variadas culturas.
A noite recente, traz o eco da trilha sonora daquele tempo
Tambores confeccionados pelas mãos arquitetas do mundo.
Metralhadoras, fuzis e armas químicas
Deitarão no seu colo para dividir o espaço com as rosas vermelhas.
Os amores não correspondidos, se contentaram ao seu lado
Corações sujos que me lembram as pedras
Hipérbole da herança maldita, que umedece e goteja em pequenos ventres
Multiplicando a desgraça e mal vivida vida.
Vida que alimenta a feijoada, vida que swinga o carnaval
Vidas de mãos feridas que tocam os instrumentos... Umbanda, candomblé.
Tragam-me a garrafa com o líquido da cultura nordestina
Vou me embriagar desse sincretismo puro e natural.
Noite! Termo abstrato que absorve o sentimento africano
África mãe, áfrica pai, áfrica.
Sinônimo de negro.
Ovaciona o seu hino de raiz
Que a recitação voe até a audição desses espíritos maléficos
Âmago sem cultura.
África! Sou larápio de cena
Que cutuca a sua bonança, com palavras egocêntricas
Venha mãe, dance comigo o batuque atual
Por que nas nossas festas noturnas, a sua entrada é franca
Então ginga, o batuque atual.
Que cada gesto teu, tenha um pedaço de desdém
Venha, pois a noite... Te convida pra dançar.

Ademiro Alves (Sacolinha)

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