29 novembro, 2004

Aguardem...

Graduado em Marginalidade
Este é o título do primeiro livro do escritor Sacolinha (Alessandro Buzo no prefácio e Sérgio Vaz na poesia). Um romance que engloba variados tipos de cultura, desde a Umbanda, passando pela capoeira, o teatro e o rap.
É a tragédia exposta com conhecimento de causa, a paisagem da
periferia, tão esquecida dos nossos letrados. Um romance suburbano moderno, sem frescura, como deve ser.
Em análise na editora. Aguardem!

Divulgação

Debate sobre literatura
Tema: Uma viagem literária
Expositores: Sacolinha (Autor de “Graduado em Marginalidade”. Em análise na editora) e Carlos de Andrade (Autor de “Chuvas de Novembro”)
Onde: Comunidade Kolping do Jd. Revista – Rua Cumbica, nº.630 – Suzano – S.P
Data: 02 de Dezembro de 2004 ás 19h:00
Entrada gratuita

Dia 06/12-Segunda-feira ás 19h:00 – Lançamento da antologia “No limite da palavra” Ed. Scortecci* e Sarau Lítero Musical
*Sacolinha participa desta antologia com um conto erótico.
Local: Livraria Asabeça – Rua Deputado Lacerda Franco, 187 – Pinheiros
Obs: Pegar o metrô e descer nas Clínicas, lá embarcar no ônibus Arco Verde e descer no 3º ponto da Lacerda Franco.
Informações: fernandadesa@scortecci.com.br / (11) 30328848

Produtos Literatura no Brasil

Camisetas à venda nas cores: Preta – Branca – Bege – Amarela - Azul escura e Turquesa
Disponíveis nos modelos femininos e masculinos: P, M, G, GG.
2 modelos de desenhos
Camisa: 10,00 / 13,00
Infantil: 8,00 / 10,00
Blusa: 20,00 / 15,00
Kit: 1 Caros Amigos Literatura Marginal III – 1Camisa L.B – 2 adesivos p/ carro e bicicleta e um livro: 29,90

Também á venda a coletânea:
ARTEZ Vol. V – Antologia literária e artística
Contos, Crônicas e Poesias
Participação: Ademiro Alves (Sacolinha)
Valor: 10,00

Todos os produtos terão 30% de investimento no projeto, exceto a revista.
À venda na loja Contacto Sport – fone: 47446831
Centro de Suzano – rua Gal. Francisco Glicério, ao lado da estação de trem,
ou diretamente com o projeto:
Literatura no Brasil: 47495744 / literaturanobrasil@bol.com.br

Conto Ferréz

Vizinhos
(Conto inédito do escritor Ferréz)

Demorou para juntar todo o dinheiro, fiquei com um par de tênis e dois shorts. Foi muito duro comprar a casa, tive que usar camisas de atacado na Bresser, todas brancas, me custavam três reais e noventa centavos, e o mínimo que se podia comprar era de dez peças, só assim para economizar.
Não importava, eu queria mudar, a vizinhança tinha chegado no limite, depois que passei um mês inteiro seduzindo aquela morena, ela havia se deitado comigo, transamos gostoso, embora os ônibus que passavam a toda velocidade fizessem meu quarto tremer.
Mas voltando ao assunto, depois que chegamos aos finalmente, veio a decepção: assim que saí com ela do meu quarto, um vizinho barbudo (que seja amaldiçoado seu nome) nos viu e disparou:
– Hã! Tá até suado né?
Ela nunca mais olhou para minha cara.
Outra coisa que não suporto mais é que a janela do meu quarto dá de frente para quatro janelas e nessas quatro estão as piores famílias. Numa delas, uma mulher com o cabelo seco ficava apoiada o dia todo. Quando o marido chegava, ela saía por uma hora e então voltava, ficava olhando fixamente para meu quarto durante todo o entardecer.
Uma vez levantei de madrugada e resolvi mijar nas escadas mesmo, preguiça de descer para o banheiro. Assim que comecei a me aliviar, notei uma pessoa abrindo uma janela, mas eu não queria acreditar, ela estava olhando, eu não consegui parar de mijar, estava tão gostoso. Então, assim que terminei, segurei meu pênis com a mão esquerda e inclinei em sua direção e comecei a movimentar a mão. Apesar de estar com muito sono, podia jurar que notei seu rosto se transformando e logo ela saiu da varanda.
De noite sempre tinha algum amigo me gritando, era aquele tipo de amizade que fica na sua casa de madrugada tomando café. Mas sempre foi assim, antes de eu chegar a abrir a minha janela, eu escutava outras se abrindo, eram eles olhando, talvez pensassem que iríamos fumar um baseado, sei lá, eu tinha medo de pensarem que eu era bicha. então não abria mais a minha janela, e meus amigos foram desistindo.
Bati dezena de vezes o portão na cara dos meus vizinhos. Era só estar chegando com uma sacola e eles não paravam de olhar um segundo, tentavam ver o que tinha dentro. Quando alugava fitas pornográficas, pedia para o rapaz da locadora pôr duas sacolas, mas eu sabia que eles enxergavam, pois as capas eram vermelhas para os filmes pornôs e as sacolas eram muito finas.
A vizinha da esquerda tinha um cachorro que não parava de latir um segundo, eu já não conseguia mais dormir, o latido dele ecoava dentro da minha cabeça. Decidi comprar veneno, mas quando cheguei em casa me dei conta da mancada: o cara do bar que havia me vendido era conhecido dela, se o cachorro morresse envenenado eu podia ser acusado.
Tinha medo, muito medo, eles não podiam ser provocados, cansei de ver baixarias por muito menos, esse povo quando fica bravo fala cada coisa, já acordei com gritos do tipo – Seu pica murcha, cê num me come há mais de meis – ou então com frases tipo assim – Minha filha, foi ele que veio aqui me comer viu, eu não fui lá dar pra ele não.
Então eu tolerava o som alto da vizinha que morava a minha direita, decorei todas as músicas da dupla Zezé di Camargo e Luciano, e quando comprei uma estante na Marabraz levei o relógio de presente para eles, nunca ví um sorriso tão meigo.
Mas dois dias depois disso, eu tive certeza que estava enlouquecendo, aquela mulher havia feito fofocas sobre minha família a vida toda, além disso ano passado tinha dito a todos que eu com certeza era uma bicha, coisa que mais me deixa louco. Segundo os rumores dela, ninguém que era homem ficava tanto tempo estudando trancado dentro do quarto como eu.
O dinheiro estava completo, procurei as imobiliárias, não podia mudar do bairro, gostava dele, só odiava a minha vizinhança. Vagabundos e vadias, com cada um eu tinha um problema. Encontrei muitas casas legais, mas eram todas caras, procurei por mais três meses. E, durante esse tempo, ameacei de morte o vizinho da frente: ele ficava olhando para minha boca enquanto eu conversava com meus amigos, sabia que estava lendo meus lábios.
Eu tinha certeza que ele queria saber o que eu falava, não resisti mostrei o dedo para ele naquela tarde de quarta-feira. Pensei em pôr ele no meu novo romance, desisti: não ia torná-lo imortal.
Finalmente encontrei, tinha muitas espécies de plantas no vasto quintal, e era somente duas ruas abaixo da casa da minha mãe, o preço era bom, pois era desvalorizada devido ao córrego em frente. Não liguei para o detalhe, eu limparia o barro quando o rio transbordasse, eu limparia tudo todos os dias desde que ninguém estivesse tentando ler meus lábios nem ficar reparando nas minhas sacolas de fitas
Fui lá ver a casa mais uma vez para ter certeza, era sexta-feira, os pássaros entravam e saíam a todo momento. Entrei no quintal.
De dentro não se via a rua, ótimo. O vizinho do lado tinha um terreno vazio, morava longe. Já do outro lado, morava uma prima da minha mãe, era separada e tinha duas filhas, mas sempre ouviam som baixo.
Agradeci a Deus também pelo vizinho de trás: era um galpão, onde havia se instalado uma igreja evangélica. Cultos somente aos sábados – isso eu agüento, nada é perfeito mesmo.
Sequei as lágrimas de minha mãe, peguei meus livros e me mudei.
Meses depois, o terreno vazio ao lado foi alugado para uma espécie de ferro-velho, mas me acostumei com o barulho da máquina de prensar garrafas pet, e só me assusto ainda com o barulho deles desamassando latas.
Tive uma discussão com a vizinha do lado, que é a prima da minha mãe: ela fez um fogão de lenha na divisa do muro que enche minha casa de fumaça todos os dias. Tentei dizer que isso era errado, ela ameaçou chamar a polícia e disse para todos da rua que sou ladrão, que esse papo de escrever é conversa.
A igreja que fica aqui atrás da casa aumentou a sessão dos cultos, e eu sei agora quem foi Moisés, quem era Paulo e a importância dos Salmos.
Esses dias, pela manhã, fui buscar pão e, quando abri o portão, notei pela primeira vez o monte de lixo que estavam jogando em frente ao córrego. Tentei não pensar mais, caminhei lentamente até a padaria e no meio do caminho vi um cachorro mancando. Parei pra fazer um carinho em sua cabeça e ele tentou me morder. grande filho da puta.
Voltei para casa, pensando em fazer café mas o gás havia acabado, então resolvi fazer uma caminhada: saí pelo parque mais próximo (e único) e corri durante quarenta minutos. Depois, fiquei sentado no banco do parque por mais uns trinta, procurando esquecer a imagem de um frango assado que estava na minha cabeça desde que comecei a correr.
Voltei para casa e notei um Uno azul estacionado em frente ao meu portão – cara abusado com certeza. Pelo menos o ferro-velho havia parado de prensar as garrafas pets (amanhã seria dia de quebrar as garrafas de vidro, eles arremessavam todas elas contra o muro, um dia voou um caco e quase atingiu minha cabeça, meu quintal sempre amanhecia com alguns cacos, mas isso é detalhe, não vou esquentar).
A igreja começou o culto, logo agora que estava pensando em me masturbar, deixa quieto.
Eles aumentaram a programação e agora além de ensaiarem todos os dias, eles também fazem o culto todos os dias, eu já sei todas os louvores, acho que vou dar uma cochilada.
No outro dia levantei cedo, o carro ainda estava lá só que com os vidros laterais quebrados, só ai me dei conta de que devia ser roubado. Liguei para a polícia várias vezes, o dia passou e ninguém apareceu. À noite só tive alguns incômodos com os ratos cavoucando o forro do quarto, as unhas deles davam arrepio, mas consegui dormir lá pelas 4 da manhã – o ferro-velho começou a quebrar as garrafas as sete em ponto.
Saí para comprar pão e, quando abri o portão, notei uma variante branca encostada no outro lado do meu muro. Pronto, era o que faltava, à frente da minha casa agora era um cemitério de automóveis. Deixei os pães em casa, resolvi visitar minha velha residência, e quando passei pela velha rua e olhei para meus antigos vizinhos, tive vontade de cumprimentá-los, já não pareciam tão ruins assim. A rua tinha uma leve caída e me veio água nos olhos quando percebi pela primeira vez que minha antiga casa não era vizinha de um ferro- velho, nem dava para os fundos de uma igreja, e nunca havia entrado ratos.
Mas não dava para voltar atrás: a casa era minha e esse era meu destino. Então, quando cheguei no portão, olhei para o Uno azul e vi que ele tinha lindos bancos pretos e notei que o volante era modelo esportivo. Nunca me apeguei muito a carros, mas decidi que queria aquele volante se eu fosse ter um carro um dia. Entrei no Uno e comecei a mexer, vi que ia ser difícil. Então fui até minha casa buscar a chave de fenda e um martelo.
Passados alguns minutos, eu já tinha tirado o volante, comecei a olhar para a bolinha do câmbio: tinha um lindo caranguejo desenhado. Quando toquei nela, escutei a sirene. Eu ainda tentei explicar, mas o volante estava no meu colo. A policia que eu havia chamado finalmente apareceu.
No tribunal, alguns vizinhos testemunharam, mas todos disseram que eu era novo na rua e que antes de eu me mudar nunca havia nenhum carro roubado por ali.
O dono do ferro-velho estava lá assistindo ao julgamento, algumas pessoas da igreja também, e eu até hoje não entendi quando fui condenado.
Agora me encontro num lugar sossegado. O problema é só dividir o banheiro e às vezes ter que dormir no chão, quando perco na aposta e tenho que dar minha cama para algum companheiro de cela.

Ferréz (Escritor e Rapper)

28 novembro, 2004

Esclarecimento

Devido a alguns integrantes da Cooperifa não poderem estar presentes na apresentação do dia 11 de Dezembro em Suzano, a atividade foi adiada para o mês de Janeiro de 2005, logo mais, informações aqui no site.

22 novembro, 2004

Poesia


A noite te convida pra dançar

África mãe, Brasil filho
O leite do mundo habitou as suas tetas
Mamilos perfeitos acalentados de açoite.
Seu ventre, sempre foi livre
Gerando toda a história desse universo mal agradecido
Se ser mãe é dádiva de Deus
Então a África é o berçário onde Ele nasceu.
Suas crianças, dotadas de grande picardia
Lançaram ao mundo variadas culturas.
A noite recente, traz o eco da trilha sonora daquele tempo
Tambores confeccionados pelas mãos arquitetas do mundo.
Metralhadoras, fuzis e armas químicas
Deitarão no seu colo para dividir o espaço com as rosas vermelhas.
Os amores não correspondidos, se contentaram ao seu lado
Corações sujos que me lembram as pedras
Hipérbole da herança maldita, que umedece e goteja em pequenos ventres
Multiplicando a desgraça e mal vivida vida.
Vida que alimenta a feijoada, vida que swinga o carnaval
Vidas de mãos feridas que tocam os instrumentos... Umbanda, candomblé.
Tragam-me a garrafa com o líquido da cultura nordestina
Vou me embriagar desse sincretismo puro e natural.
Noite! Termo abstrato que absorve o sentimento africano
África mãe, áfrica pai, áfrica.
Sinônimo de negro.
Ovaciona o seu hino de raiz
Que a recitação voe até a audição desses espíritos maléficos
Âmago sem cultura.
África! Sou larápio de cena
Que cutuca a sua bonança, com palavras egocêntricas
Venha mãe, dance comigo o batuque atual
Por que nas nossas festas noturnas, a sua entrada é franca
Então ginga, o batuque atual.
Que cada gesto teu, tenha um pedaço de desdém
Venha, pois a noite... Te convida pra dançar.

Ademiro Alves (Sacolinha)

19 novembro, 2004

Entrevistado

Alessandro Buzo - Escritor e Ativista Cultural

L.B: Nélida Pinon diz que o papel do escritor é de despertar a ira de uma consciência. Qual o seu papel como escritor?
Alessandro Buzo: Como escritor da periferia o meu papel é incentivar a leitura daqueles que não leêm nada, que na periferia é comum. Logo, ele se identificando com meu trabalho pode mudar isso, tenho amigo que leu O TREM e nunca tinha lido nada, hoje lê varios livros, fico orgulhoso com isso.


L.B:
Quando está escrevendo você se preocupa com as técnicas literárias?
Buzo: Não, só tenho o primeiro grau, Deus me deu o dom e escrevo, mas sem preocupações.

L.B: Prosa, poesia, crônica, conto... Qual categoria você se encaixa?
Buzo: Faço crônica e conto, gosto de poesia mas tenho poucas minhas.

L.B:
Tem influências literárias?
Buzo: Não, minha influencia é o meu dificil dia a dia, ponho no papel as dificuldades que enfrento.


L.B:
O primeiro romance do Sacolinha, Graduado em Marginalidade, está em análise na editora. Você assina o prefácio, nos fale dessa participação.
Buzo: O livro do Sacolinha é muito bom, fiquei feliz em fazer o prefacio porque o Sacola é guerreiro, o que ele faz pelo povo de Suzano nenhum prefeito eleito vai fazer, mas quem vai pagar ele não é o contra cheque no fim do mês, quem vai pagar o Sacola é Deus.

L.B: Em quatro anos você escreveu dois livros. Atualmente você escreve para vários veículos de comunicação, há rumores de que não demora em lançar a sua terceira obra. Escrever é uma necessidade pra você?
Buzo: Sim, é pura necessidade, porque se não decarregar minha neurose no papel iria me tornar um terrorista, sou revoltado até a alma com as dificuldades sociais, poucos com muitos e muitos com quase nada.
Vou lançar meu terceiro livro ano que vem, vou pegar no pé da CPTM (Companhia Paulista dos trens metropolitanos), mas vou pegar pegando, aguardem.....

L.B: O seu segundo livro “Suburbano Convicto” está alcançando as expectativas?
Buzo: Ele custa R$ 25,00 nas livrarias e R$ 20,00 comigo, logo é foda vender, o povo não tem o habito de ler e por isso é duro sacar vinte conto e dar num livro, mas mesmo não vendendo como agua eu estou tranquilo e acho que dentro da realidade ele está alcançando as expectativas sim, estou bastante satisfeito.

L.B: Você costuma desenvolver eventos culturais no seu bairro, na verdade desenvolve o papel que cabe ao governo federal e a prefeitura municipal. Qual a sua opinião sobre isso?
Buzo: Não adianta esperar pelo governo ou prefeitura, faço evento com qualidade, quando a prefeitura faz evento por aqui ( Itaim Paulista ) é com Axé, forró e coisas populares, mina de shotinho rebolando, prefiro nem colar, promovo o FAVELA TOMA CONTA, no dia das crianças distribuimos 2.000 kites de doces, sem apoio de nenhum comerciante e nem do governo, no dia 19 de dezembro tem a quinta edição e vamos sortear 3 bicicletas e 200 exemplares do livro VIVENDO COM A VIDA - ACREDITAR É REALIZAR da escritora BABI AKYLLA, além de levar grandes nomes do RAP NACIONAL como Enganjaduz, Sabedoria de Vida, Walter Limonada, Panico Brutal, e varios outros.....
Acho que a prefeitura tinha que contratar os agitadores culturais que existem nos bairros periféricos e não mandar um mano que nunca fez um evento com o cargo de PROMOTOR CULTURAL, fazer evento é para quem é e não para quem quer, mas agora com o PSDB será o fim, o povo ignorante tirou a Marta que foi a prefeita que mais fez pela periferia, o jeito é continuar fazendo por nós mesmos.


L.B: Quais os seus projetos literários?
Buzo: Lançar um livro por ano.

Um salve: A Deus que me fortalece, minha familia (Marilda e Evandro), todas as favelas e manos do hip hop, a todos que escrevem, não desistam, aos manos do LITERATURA NO BRASIL, da COOPERIFA, da 1 DA SUL, do MOOHB, do ENRAIZADOS, e todos que leram meus livros e meus textos, especialmente para você que acabou de dispensar um tempo para ler essa entrevista.
PAZ !!!!!!!!!!!!!

11 novembro, 2004

Indicações


Quarto de despejo – Diário de uma Favelada
Maria Carolina de Jesus


“Quando eu não tinha o que comer ao invés de xingar eu escrevia...”
Nesse diário, a autora descreve com conhecimento de causa e alto teor poético-marginal, o seu dia-a-dia na favela do Canindé. Com os seus dois filhos menores, passou por todas as dificuldades de uma vida miserável, e nem por isso entrou na degradação que havia na favela: Prostituição, drogas e fofocas.
Mesmo em meio á dificuldade, nunca deixou faltar comida para os filhos:
- Hoje acordei ás 4h:30 da manhã, busquei água e depois fui catar papelão pra comprar o pão para o café.
Maria Carolina estudou até a terceira série do primeiro grau, sendo assim aprendeu a ler e a escrever fora da escola, sua cultura foi reciclada do lixo.
Uma certa tarde, chegou na favela um jornalista de nome Audálio Dantas, e em meio ao alvoroço de pessoas querendo ser entrevistada, o jornalista perguntou:
- Quem tem algo a dizer?
Maria Carolina gritou firme:
- Eu.
Entrou no seu barraco e logo voltou com um monte de cadernos velhos:
- Está aqui o que eu quero dizer...
Dali a alguns meses, esses cadernos viraram um livro, que chamou a atenção do governo federal e foi traduzido em diversas línguas.


O Cortiço
Aluísio Azevedo


Escrito no ano de 1.850, mas até hoje é considerada uma obra recente. A versão antiga do “Reality Show”.
Um romance que gira em torno de João Romão, o dono do cortiço. Homem que para se enriquecer comeu restos de comida, usou roupas velhas, dormiu mal e praticou o capitalismo selvagem. Daí surgiu o Mukifo, ou melhor o Cortiço, um aglomerado de cem casinhas.
Intrigas, rivalidade, capoeira, samba-viola, traição, ganância, inveja e ódio ao próximo, são algumas das palavras que acercam a história.

07 novembro, 2004

Eventos Culturais

Dia 18/11-Quinta-feira ás 19h:00 - Sarau Negro
MPB – Teatro – Capoeira – Recitação
Local: Sindicato da Construção Civil – Rua Campos Salles – Centro de Suzano – Próximo ao Milharal – Entrada Franca
Realização: Literatura no Brasil e CPD Sócio Cultural Negro Sim
Informações:
literaturanobrasil@bol.com.br / (11) 47495744

Dia 25/11-Quinta-feira ás 19h:30 – Bate-papo: Literatura Marginal
Convidados: Alessandro Buzo, Sérgio Vaz, Sacolinha
Local: Ação Educativa – Rua General Jardim, 660 Centro de São Paulo
Informações:
centro@acaoeducativa.org / (11) 31512333

Dia 06/12-Segunda-feira ás 19h:00 – Lançamento da antologia “No limite da palavra” Ed. Scortecci*
Local: Livraria Asabeça – Pinheiros
*Sacolinha participa desta antologia com um conto erótico.
Informações:
fernandadesa@scortecci.com.br / (11) 30328848

Site L.B

Indicações, entrevistas, eventos e toda a essência cultural do gueto. Essa é a proposta.

Crônica/Conto


Documento de desempregado

Roupa de gente, sem frescura de brinco, sem tatuagem, cavanhaque ou barba. No lugar do desodorante, uma pasta cheia de folhas de sulfite com um preenchimento pobre. Pra fechar o pacote, a fome, que morre depois de dois churrascos grego ou hot-dog, acompanhados de uma água tingida, com gosto de nada.
- Qualquer novidade a gente liga tá?
Será que quando aparecer um “Tornado” eles ligaram?
Aja paciência.
“Vinde a mim todos aqueles que estão cansados”.
Então por favor, todos os que estão sem emprego, formem uma fila para subirem.
Que venham os livros de auto-ajuda, e tirem a coragem daquele que quer se matar, por motivos mil.
- E aí Edson, está indo pra onde?
- Trabalhar.
- Do quê?
- De procurar emprego.
Ó pátria falsa idolatrada pelos fatos. Salve, salve os sem-estima.
Virou cultura. Excelentíssimo Papa, e seus companheiros, façam o favor. Canonizem aquela senhora que morreu na fila do posto de solidariedade e dêem a chance para eles dizerem:
- Ô nossa senhora dos desempregados.
E que não fiquem de fora as folhas calendários. Separem aí um dia para eles, é de direito.
- Nome por favor?
- Silvia.
- Idade?
- 23 anos.
- Estado civil?
- Solteira.
- Profissão?
- Desempregada.
Nas agencias o “Exp” ficou famoso:
Ajudante geral: Exp 2 anos
Auxiliar de almoxarife: Exp 1 ano
Empregada doméstica: Exp 3 anos
E na função “Desempregado”, quantos anos de experiência precisa?
- Hei malandro, fica onde você está e mãos para cima. Documentos.
- Está aqui.
- O que é isso?
- Um currículo!
- Você está tirando uma com a minha cara?
- Não estou não senhor, é que documento de desempregado é isso aí.

Ademiro Alves (Sacolinha)

Literatura no Brasil

O Blog Oficial do Alto Tietê

IV fase

Povo Negro

Vieram da África distante
Jogados em navios negreiros
Cruzando os horizontes
Para um país forasteiro

Foram quatrocentos anos
Viajando nos navios negreiros
Eram jovens, velhos, enfim,
Gente de todo meio

Aqui chegando foram vendidos
Vendidos como mercadorias
Todo seu corpo era vistoriado
E pagavam o que lhes valiam

Trabalhavam, trabalhavam
Manhãs, tardes, e noites,
Não podiam reclamar
Pois logo lhes vinham o açoite

Hoje, os negros descendentes
Vivem numa escravidão disfarçada
Nas miseráveis favelas
Passando fome com as filharadas.

Maria Rivanilda (É moradora do Rio de Janeiro,
e coordena o jornal da ADAB – Associação
dos descendentes de africanos do Brasil)



A pedra

“... procura-se alguém que faça um coração de pedra voltar a ser o que era”.

No subúrbio há um ser humano. Um homem que está indignado e ao mesmo tempo inconsolável. Perdeu a sua família numa chacina e ficou cego de um olho.
Não consegue emprego, não tem na vida um amor, um amigo, não tem televisão, Internet, microondas, DVD, carro, bicicleta. Não tem merda nenhuma... Exceto uma vida miserável.
Mora numa casa feita de madeira e tábuas de guarda-roupa. O chão do seu lar é marrom, e mais embaixo residem as minhocas. O espaço do seu barraco ele divide com o vazio, esse que habita no seu estômago.
Numa dessas madrugadas da vida, ele sai pra rua á procura de comida, ou melhor, restos de comida dispensados pelas bocas fartas sem sentimentos.
A disputa com os vira-latas, é grande.
Uma viatura policial aborda o bicho faminto.
Os homens da lei dão uma surra verbal e física no miserável.
O coração desse ser humano que antes era um fígado mole e meloso, agora é um diamante.
E hoje, procura-se alguém que faça um coração de pedra, voltar a ser o que era.

Ademiro Alves (Sacolinha), atualmente aguarda a análise do seu primeiro livro: Graduado em Marginalidade



Frases, poemas e poesias

“Sou um guerreiro, sinto que sou. Luto e sei que o amor vence o ódio, mas a maioria das vezes que estamos com ódio, é por causa do próprio amor”.
Kaey (Integrante
do grupo Literários Rappers)

Maria Carolina
“Com sua humildade, insistência e perseverança, você foi a jóia da favela, foi, é, e sempre será o ouro no meio do chumbo”.
Sacolinha

Raciocínio
“Foi naquela confusa tentativa, de resolver uma equação logarítmica, que percebeu como a matemática é complicada. Parece a vida real, complicada, confusa, mas nada que um pouco de raciocínio não resolva. Passou então a entender melhor os problemas do dia-a-dia, então sempre os encara com o raciocínio”.
Ademilson Gomes (Morador
do estado de Minas Gerais)

“Não faço poesia, jogo futebol de várzea no papel”.
Sérgio Vaz

Questão de lugar
Artista que sou da escrita, não estou no rádio, nem na TV, por isso, você não me ouve, nem me vê... Você me lê!
Jacy Ge (Criador do Jornal Ação e Poesia
Ferraz de Vasconcelos)

literaturanobrasil@bol.com.br



Atenção!
Acaba de ser lançada a coletânea:
ARTEZ Vol. V – Antologia literária e artística
Contos, Crônicas e Poesias
Participação: Ademiro Alves (Sacolinha)
Valor: 10,00
Para adquirir entre em contato:
47495744 / 83252368
sacolagraduado@bol.com.br

O Idealizador

Biografia
Ademiro Alves (Sacolinha), nasceu em 09 de Agosto de 1983, na cidade de São Paulo.
Participou da revista Caros amigos "Literatura Marginal" ato III lançada em Maio de 2004.
Menção Honrosa em 2003 e 2004 na categoria conto do 1º e 2º concurso “Artez” de literatura.
Participa de duas coletâneas: “No limite da palavra” editora Scortecci e “ARTEZ - vol. V” Meireles editorial.
Vice – presidente do CPD – Sócio cultural Negro Sim.
Atualmente está desempregado e aguardando a análise final de seu livro:
Graduado em Marginalidade - Um romance com participações de Alessandro Buzo e Sérgio Vaz. Aguardem!

Produtos L.B

Produtos Literatura no Brasil

Camisetas à venda nas cores: Branca – Bege – Amarela - Rosa e Turquesa
Disponíveis nos modelos femininos e masculinos: P, M, G, GG.
Camisa: 10,00 / 13,00
Infantil: 8,00 / 10,00
Blusa: 15,00 / 20,00
Kit: 1 Caros Amigos Literatura Marginal III – 1Camisa L.B – 2 adesivos p/ carro e bicicleta e um livro: 29,90
Todos os produtos terão 30% de investimento no projeto, exceto a revista.
À venda na loja Contacto Sport – fone: 47446831
Centro de Suzano – rua Gal. Francisco Glicério, ao lado da estação de trem,
ou diretamente com o projeto:
47495744 /
literaturanobrasil@bol.com.br

Oportunidade!


Atenção

O Literatura no Brasil, está aceitando textos para serem divulgados na “Quinta Fase” do projeto.
Todo texto que o projeto recebe, é analisado por uma comissão literária e se aprovado for, será trabalhado durante quatro meses (Uma fase).
Debates, palestras, rádios comunitárias, eventos, feiras literárias, saraus, encontros sociais, e Internet, são os ambientes onde o Literatura no Brasil divulga os textos.
Áqueles que trabalham com literatura, ou seguem a carreira de escritor, não percam essa oportunidade, são mais de 1.250 leitores cadastrados com o projeto.

Cultura que é nossa.

www.suburbanoconvicto.blogger.com.br

06 novembro, 2004

Apresentação!


Prefácio – Literatura no Brasil

A cultura de apologia à leitura e a vida está crescendo da raiz, e essa raiz chama-se...Literatura no Brasil.
José Louzeiro, Plínio Marcos, Gonçalves Dias, Aluízio Azevedo, João Antônio, Adelaide Carraro, Lima Barreto e Maria Carolina de Jesus. Esses e outros escritores brasileiros fazem parte do trabalho do projeto. Trabalho que para se desenvolver basta ter uma visão do cotidiano.
O projeto cultural Literatura no Brasil, foi posto em prática num momento de revolta, tornando assim um depósito de desabafo não só para o idealizador do projeto, mas sim para todos aqueles que enviam seus trabalhos para serem divulgados pelo Literatura no Brasil.
Dia 1 de Dezembro de 2002, a cultura da periferia ganhou mais um aliado.
Esse projeto conta com uma comissão literária e tem contato com diversos estados.
Desenvolver debates, palestras, saraus, eventos beneficentes de hip-hop e explorar murais são umas das atividades que o Literatura no Brasil mais pratica. Futuramente lançaremos concursos literários e coletâneas, sempre dando prioridade onde a cultura fantasia não alcança.
Outro papel fundamental do projeto, além de incentivar a leitura, é a divulgação de escritores anônimos. Escritores que já tem trabalhos lançados, mas não tiveram uma oportunidade para mostrar o seu talento.
Poemas, poesias, contos, crônicas, frases, versos, prosas, enfim, todo e qualquer trabalho literário que tenha um cunho social, passe informação ou chame a atenção para a sua leitura. Esses trabalhos serão avaliados pela comissão e se forem aprovados, serão xerocopiados e distribuídos em eventos, debates, saraus, palestras, bibliotecas, entidades, ong’s e por meios de cartas enviadas. Também serão lidos em diversas rádios comunitárias.
O Literatura no Brasil está aí para fazer o leitor prestar mais atenção no livro em que está lendo, pois não devemos devorá-lo, mas sim apreciá-lo.
Os diretores e responsáveis de bibliotecas que aceitarem doações podem se cadastrar com o projeto. Todos os livros, revistas e gibis que o projeto recebe é revertido para as entidades que mantém cadastro com o Literatura no Brasil.

Sobre choro e nó na garganta

Trecho do livro "Dente-de-leão: a sustentável leveza de ser" - Escritor Sacolinha