04 setembro, 2005

Entrevista do mês

Entrevista com o escritor e Cartunista Mauricio Pestana

L.B: Você só escreve cartuns, por que não poesias, contos ou romances?
Porque acredito que cartum contemple poesia, conto, romance, comedia desenho e arte um bom cartum tem que ter tudo isso e um pouco mais.

L.B: O seu trabalho artístico se iniciou na década de 80. O que fez você optar pelo lado da questão racial, ainda assim de uma forma otimista?
Otimista!!!Acho que você não conhece todo o conjunto de minha obra.
Optar pela questão racial foi uma forma de expor meus sentimentos através de minha arte, que envolve, humor, critica, denuncia e sobre tudo indignação propio do cartum!


L.B: Você se mantém financeiramente do que escreve, ou tem algum trabalho paralelo?
Sim. Vivo de minha arte. Tenho um estúdio em São Paulo onde presto serviços para sindicatos, editoras, organizações não governamentais e organizações governamentais.

L.B: Tem influências literárias?
Várias.


L.B: Quais os seus projetos literários ou culturais?
Quase não tenho tempo, infelizmente de desenvolver meus projetos literários e culturais, uma vez que presto muito serviços e desenvolvo projetos para terceiros como editoras e etc.
Costumo dizer que meu trabalho é realizar na maioria das vezes projetos dos outros.
Exemplo disso foi uma encomenda de uma editora paradidatico que encomendou-me que eu escrevesse um livro sobre a cidade de São Paulo, o livro ficou lindo deu-me muito prazer mas foi um livro e um projeto encomendado.


L.B: Tem idéia de quantas cópias dos seus livros já foram vendidas?
Até hoje escrevi 12 livros e 42 publicações educativas (cartilhas) para ONGs e para o Estado. A cartilha de maior tiragem foi “ O Negro No Mercado de Trabalho”. Juntando todas as tiragens foram 750 mil exemplares. Se juntarem todas as publicações que fiz ao longo dos 22 anos de carreira devo ter uma tiragem de um milhão e setecentos mil exemplares.

L.B- Aqui no Brasil o índice de leitores é muito baixo. Isso é falta de iniciativas do governo ou é a falta de interesse da população?
As duas coisas, mas principalmente o baixo índice de investimento em educação e cultura.

L.B: Como você encara a relação editora e escritor novo?
É uma pergunta complexa, como escritor acho que de 8 a 10% para receber de direitos autorais é uma verdadeira miséria, como editor e tendo que pagar de 40 a 60% para distribuidores, tendo que investir na produção de livros e todas as dores de cabeça que envolve a questão fiscal, contabilista e administrativa muitas vezes fico mais feliz como escritor do que como editor, já que desempenho as duas funções.

L.B: Como foi pra você lançar o seu primeiro livro, “A transação da transição”, tendo em vista os seguintes obstáculos: Você ainda não era conhecido nacionalmente, era o ano de 1985, você é negro e o livro trata de um assunto de uma forma crítica?
Foi ótimo. Não tinha nada a perder. Era cartunista político do Jornal do Diário do Grande ABC, tinha um bom salário para a idade e para a época não dependia das vendas e nem do sucesso do livro, foi ótimo, eu tinha 19 anos e ajudou-me muito a tornar meu trabalho nacionalmente e internacionalmente conhecido.

L.B: Qual a sua opinião com relação a sociedade que vê de forma preconceituosa as religiões africanas?
Vejo com tristeza toda forma de preconceito e discriminação, principalmente quando elas vêem de instituições tão consolidadas poderosas deste pais.

L.B: Todo artista tem ou vive um momento de reflexão sobre a vida. Alguns deles acabam se suicidando, bebendo, se drogando ou desistindo de tudo. Você já passou por um momento assim?
Passo por isso neste momento, como eu não bebo, não me drogo e adoro a vida vou sobrevivendo.

L.B: Qual a sua posição quando se refere a cotas para negros e afrodescendentes?
Super favorável, porém acho que a discussão não deva se restringir apenas à cotas e sim a um programa mais amplo, um programa de ações afirmativas, que incluam alem das cotas uma reparação por tudo que fizemos e continuamos fazendo para a construção deste país e pela vida de estrangeiro, que esse pais sempre nos tratou.

L.B: Se algum interessado quiser contratar uma palestra ou comprar um livro seu, como ele deve prosseguir?
Entrando no site www.mauriciopestana.com.br



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