Carta ao presidente
Saiba excelentíssimo senhor presidente,
Homem nordestino como a gente,
Que aqui no nordeste tudo vai bem.
Há mais de dois anos que não chove,
Se não acredita, venha o senhor e comprove
Apesar de que isso, não é da conta de ninguém.
As rebançãs que sempre migram do agreste,
Enfeitando o céu azul do meu nordeste,
Também fugiram para não morrer de fome.
E a cauã que canta ao romper da aurora
Hoje não canta, ela simplesmente chora,
Pois como eu, faz muito tempo que não come.
Por falta de chuva, os rios e açudes secaram,
Os resistentes umbuzeiros murcharam,
Até o mandacaru murchou também.
Mas saiba excelentíssimo Senhor presidente
Homem nordestino como a gente
Que aqui no nordeste tudo vai bem.
Os nossos filhos, já nem vão mais a escola,
Ao in vez disso, precisam pedir esmola,
Andam sujos, descalços e esmolambados.
Tem muitos prostados em cima da cama,
Isto é normal depois de beberem lama,
Misturada com fezes e a urina dos gados.
Gados que morreram sem ter pra onde fugir,
A fome e a sede, não puderam resistir,
Mas este é o destino que todo sertanejo tem.
Por isso saiba excelentíssimo senhor presidente
Homem nordestino como a gente
Que aqui no nordeste tudo vai bem.
Somos nordestinos, fomos esquecidos.
Homens e mulheres desconhecidos,
Apesar de ser um povo tão valente.
Quarenta dias jejuaram Cristo e Moisés,
Mas meu senhor jejuar quarenta meses
Infelizmente não existe quem agüente.
Senhor presidente, desculpe lhe jogar isso na cara,
Sei que também fugiu da seca num pau de arara,
E conhece esta dor como ninguém.
Por isso saiba excelentíssimo senhor presidente
Homem nordestino como a gente
Que aqui no nordeste tudo vai bem.
Se por acaso esta carta chegar a vós
Certamente não ouvirá mais minha voz
Porque a morte esta batendo em minha porta.
Não sou o único, sou apenas mais um homem
Como muitos, condenado a morrer de fome,
Mas e daí, quem com isso se importa?
Desculpe os erros minhas mãos estão tremendo
E as minhas vistas já estão escurecendo
Chegou à hora, de eu me despedir também.
Mas saiba excelentíssimo senhor presidente
Homem nordestino como a gente
Que aqui no nordeste tudo continuará bem.
Francis Gomes
tchekos@ig.com.br
Sessão de autógrafos
Escritor Sacolinha lança livro na Bienal de SP na próxima quarta-feira “A Alanda ainda está de pijama” novo livro infantil do escritor s...
-
Neste sábado 13/01 às 10h a Casa de Cultura Pq. São Rafael recebe a terceira edição do projeto Minha Literatura, Minha Vida...
-
Saudações a todos e todas. Este é o Fanzine Literatura Nossa nº 21. Mais um meio de divulgação dos trabalhos literários da Associação Cultu...
-
Currículo/Biografia 1983 Nasce no Hospital e Maternidade Pq. Dom Pedro II, em São Paulo, Ademiro Alves de Sousa, filho de Maria Natalina Alv...