Um quase mergulho no mar-asmo cultural do poder público em Suzano
Já fazia tempo que vinha ouvindo reclamações e comentários
sobre a pessoa do Suami de Azevedo à frente da Secretaria de Cultura do
município de Suzano.
Eu sempre respondia: - Calma gente, vamos esperar mais um
pouco. Ele tá chegando agora, deixa ele entender um pouco a máquina, aí vai
melhorar.
Mas que nada!
Como se não bastasse não mostrar a que veio e ainda não
dialogar com os artistas, acabou criando um mal estar enorme entre governo e a
classe artística da cidade quando na semana passada participou do conluio para
o fechamento do recém-inaugurado Teatro Contadores de Mentira.
Ou seja, além de não fazer ainda quer prejudicar os que
fazem.
E qual não foi a minha surpresa quando, consultando os
municípios que estavam em convênio com o Minc (Ministério da Cultura), percebi
que o nosso município havia perdido todos os prazos para assinar parceria com
este ministério?
Perdemos a chance de participar de um momento histórico da
cultura em nosso país onde, inclusos no Plano Nacional de Cultura, poderíamos
receber verbas de editais federais, livros, vale cultura e ainda por cima ter a
chance de atingir um teto mínimo de 1,5% do orçamento municipal para a pasta da
cultura.
Artistas de Suzano prestem atenção, ficamos de fora do
Sistema Nacional de Informações de Indicadores Culturais. Isso é muito grave!
Assim estamos mesmo caminhando para o marasmo de antes. Em
pensar que o secretário reclama da falta de verba...
E mesmo com o que tem de verba atualmente, já dava para
mostrar resultados. Lembro que com muito menos o setor de Literatura da gestão
passada conseguiu colocar Suzano no cenário nacional das Letras, promovendo o
“Concurso Literário” que tirou 190 escritores do anonimato, o sarau “Pavio da
Cultura” que trouxe autoridades de vários países para a cidade e lançou dezenas
de livros de autores de Suzano e região, e as palestras “Trajetória Literária”
que trouxe para cá Ariano Suassuna, Ignácio de Loyola Brandão, Moacir Sclyar,
Marcelo Rubens Paiva, Zuenir Ventura e mais 50 escritores mundialmente
conhecidos.
Só estes três projetos deram a Suzano visibilidade e muitos
prêmios, renderam diversas teses de mestrado e trouxe muita gente pra cidade,
de artistas à público. E ainda serviram de modelo para muitas secretarias,
departamentos e diretorias de cultura de todo o país.
Isso só na área de literatura, imagine nas outras.
Como se vê, dinheiro não é problema. Talvez se o Suami
tivesse descido do pedestal e ouvido alguns artistas a situação não estava
desse jeito. Enquanto o Mateus Sartori em Mogi das Cruzes promove os encontros
setoriais (com escritores, músicos, artistas plásticos, cineastas, dançarinos e
etc.) aqui o secretário se nega até a atender os artistas.
Quando o mesmo foi cobrado pelos seus pares (já que com as
pessoas que manifestam insatisfação com a secretaria de cultura ele as tem como
inimigos) disse que muitos projetos estavam encaminhados, e que inclusive o
concurso literário seria feito só para as escolas.
Que merda!
Lutamos justamente pelo contrário. Que os projetos sejam
realizados para além dos muros das escolas e que todos possam participar, já
que essas unidades já contam com verba dos governos estaduais e federais. E de
forma alguma estariam de fora dos projetos do município.
Suami, secretaria de cultura não é a unidade escolar onde
você passou a vida acomodado como diretor, é sim um lugar de projetos para toda
uma cidade de quase 300 mil habitantes, e que a gestão cultural desta
secretaria deve abranger e caminhar com o país. “Ficar de frente para o mar, de
costas pro Brasil, não vai fazer desse lugar um bom país”. Salve Milton
Nascimento.
Só conhecer o centro e escrever sobre ele, não ajuda toda
uma população. Você precisa andar pelos bairros, secretário, e mapear
culturalmente o município.
Não se esqueça também da cultura popular, que historicamente
já é esquecida. A capoeira e as religiões de matrizes africanas (que você deve
saber que existem, já que é historiador) estão bem chateados pela transformação
do Pavilhão da Cultura Afro Zumbi dos Palmares em espaço de ensaio teatral. Por
que fechou o Galpão das Artes e o Casarão?
Vale lembrar que qualquer associação cultural está
promovendo mais projetos culturais do que a Prefeitura de Suzano, e sem verba
nenhuma, hein Suami!
Trouxe minha esposa para morar aqui. E nossa filha, nascida
em Suzano, precisa viver numa cidade cultural, para não ter que correr atrás do
óbvio, já que num local que respira cultura, as pessoas raramente precisam ir a
um hospital ou de serem encaminhadas a uma cadeia, muito menos de ter que se
locomover até o centro de São Paulo para ter acesso aos espetáculos e cinemas.
Fora marasmo cultural, fora antipatia, fora comodismo.
Sacolinha,
escritor, agitador cultural e cidadão suzanense.
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