04 novembro, 2005

Crônica...

CARLO, UMA ELEGIA
(Luiz Alberto Machado)
(em memória de todas as vítimas da injustiça)

Enquanto o fabrico desenfreado e o tráfico de armas cruéis avolumam as transações transnacionais, fazendo com que um papa genuflexo vá deprecando um mundo justo para a hipocrisia desmesurada - e ele sentado no espólio substraído das riquezas dos que ficaram pobretões -, abatem Carlos numa praça de Gênova. Enquanto a droga lícita do capital alimenta a ganância globalizadora dos senhores do mundo, protocolando hegemonias mundializadoras de um G8 que não define nada que possa favorecer uma paridade no planeta, apenas a ampliação do fosso abissal da desigualdade espragatando a esperança dos excluídos, estertora Carlo numa praça de Gênova. Enquanto o maior picareta carcamano recepciona as maiores economias mais produtivas do mundo, com os USA-e-nos-joga-fora fortificado com sua conservadora maneira de manipular a todos, uma pessoa morre assassinada por minuto na terra, e sucumbe Carlo na exatidão das estatísticas aterradoras. Enquanto a vida torna-se cada vez mais um pormenor na manutenção paradigmática duma mecânica estrutura hedionda; e a biodiversidade é loteada na exploração insustentável de um legado nefasto para os que virão amanhã; e o homem é escravizado pela vontade dos que querem a galáxia submetida ao seu mando; e a segregação levanta cada vez mais o muro limítrofe entre prósperos e famintos; e o dinheiro avilta a solidariedade, a cidadania e a sustentabilidade, Carlo vai se esvaindo em nome de um protesto doloroso. E se chamamos de gato ao gato e ao governante de patife, é porque não se perdoa a omissão dos insensíveis.

Se a terra é redonda e ainda cagam pelos quatro cantos do mundo, é porque a mentira está cultuada no tempo e no espaço.

E se nada acontecesse, nada valeria nada, porque é mais fácil assistir a morte de Carlo numa praça de Gênova, que cantar uma canção uníssona pela vida.


©Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. http://www.luizalbertomachado.com.br

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