Estamos no ano de 2006... ”–” Verão é a esta altura; sem dúvidas. ”... –” O Terra, até então, cumpriu o equivalente aos oitocentos e noventa milhões, quinhentos e cinqüenta e quatro mil, cento e setenta e seis quilômetros circulares de sua órbita... – estamos em 12 de dezembro... – “A estrela Sol já vai alta nos céus, um misto de azul e branco”.
Contemplo ao meu relógio; ele marca 08h 4m. Desço à pés a Avenida dos Expedicionários do sentido entrada da cidade para o centro depois de tomar o café matinal na Casa de Pães “Charmosinha”, dar bom dia a Solange, encontrar o João Machado, estacionar na parada de ônibus, esperar o Armênia...- é, é, é, é, é, é, é... – “Vou até São Paulo!”.
Epa, toda essa escaramuça para entrar no assunto... – “Contar um conto para encantar a alma do leitor!”.
Não obstante, relembro... – estamos em uma segunda-feira, 11 do mês, quando, ao passar defronte a “Mobby Motos”, um dos empregados vestido com um uniforme composto de uma calça na cor azul rei e uma blusa de mangas curta da mesma cor, de brim coringa, permanece, na rua a mais ou menos quarenta centímetros da guia, talvez, com a intenção de chamar a atenção do público para os produtos expostos no interior da loja.
A sol se recolhe para dormir, o Lua acorda para verter na atmosfera o seu luminoso orvalho, amanhece é terça-feira, dia 12, a cena se repete.
Faço o mesmo itinerário de sempre, e a mesma loja, à mesma hora, a mesma avenida, a mesma estrela Sol, o mesmo indivíduo, a mesma Arujá, o mesmo Armênia, o mesmo São Paulo-Braz, o mesmo Jardim Emilia, tudo está lá, e, é o mesmo tudo!
A Sol se põe, novamente, dorme a sono solto, a noite estende o seu negro véu, o satélite do Terra; o lua revela na atmosfera o simulacro dos seus vales alpestres e selvagens e as estrelas cintilam no fundo azul enegrecido dos céus;... – piscam e fecham, piscam e fecham, piscam e fecham... – amanhece.
Entrementes, a rotina do dia-a-dia, mais uma vez, continua... – “O céu azul moldura a tela da existência, as nuvens alvas como se fossem verdadeiros flocos de algodão passeiam, e, alegrando-se, dançam a valsa inolvidável da criação...” – “Outro dia, nova manhã, quarta-feira, dia 13 de dezembro, dia do marinheiro e, como sempre, o trabalhador irá amargar, por certo, mais um expediente comercial árduo e profícuo, exposto sob um calor escaldante a emanar da estrela que aquece ao planeta Terra.”
O tempo urge, a Sol nasce; o Lua se põe, o Lua nasce, a Sol se põe e, novamente, em uma sucessão de nascentes e poentes, é quarta-feira 13 e quinta-feira 14; nada se altera, a mesma hora de sempre, a loja abre as portas... – são duas folhas; cerrando-se na calada da noite.
Noto que o empregado fiel e pontual, caia chuva intermitente ou faca sol escaldante, não abandona o seu posto, haja vista que é um feliz cooperador de seu patrão e fiel, e, admita-se; deve estar sem registro em Carteira Profissional, mal remunerado, sem INSS, não recebe o 13º salário, a insalubridade, o risco de vida:... – eu fico pasmo!’
O céu se pinta de azul negro, é noite; adormeço às 00h 51m do dia 15 de dezembro, pelo menos é do que estimo, e, precisamente, às 07h 49m da manha, uma sexta-feira, ao passar e ver o homem, de novo, em seu posto, opto por tomar providencias... – a exploração vai acabar.
O que eu faço? Denuncio ou silencio?
As pálpebras se abrem e se fecham numa dança interessante do dia-a-dia, denuncio aos donos da “MobbY Motos” à Delegacia Regional do Trabalho – DRT – que, incontinenti, designa a um de seus fiscais para averiguar a minha informação
De fato, o fiscal acompanhado de um assistente comparece a Empresa em tela, e, de imediato, inicia os devidos levantamentos com vistas a se inteirar da real situação do dito empregado no que tange a regularidade do seu compromisso de prestação de serviços.
Deveras, o referido empregado não tem, realmente, o registro em Carteira de Trabalho, está sem pagar o INSS, não recebe o 13º salário, a insalubridade, o risco de vida, como, aliás, eu já previa.
Desse modo, para mantê-lo satisfeito, os proprietários da [Mobby Motos] lhe ofertam, quando muito estranho, uma “cesta básica mensal” eiva de produtos exóticos... – contém quinhentos gramas de graxa de cor azul, dez litros óleo hidráulico, cinco litros de lubrificante, setecentos e cinqüenta mililitros de HD 40 e alguns produtos similares... – mas, nós nos alimentamos disso?
Á vista disso, concluídas as investigações pertinentes, a Delegacia Regional do Trabalho – DRT – me convoca para oferecer o relatório do resultado da pesquisa levada a termo.
Destarte, me abrem o leque das mais crassas explicações e desfolham, ante a minha pessoa, uma a uma, todas as possibilidades... – o “Latonildo Roboaldo de Latão Zarconado”, efetivamente, não tem registro em Carteira Profissional, não goza dos direitos trabalhistas, alimenta-se de graxa, vai beber o óleo hidráulico e mineral, um lubrificante; essas coisas porque não é gente, é como um quadro, uma tela que surge a minha frente... – “é um robô!”.
Quanto a minha pessoa, não há como não admitir... – creio; cometi uma tremenda gafe, dei uma enorme mancada... – almejei proteger a um trabalhador, denunciei a sua firma, os juizes da Delegacia Regional do Trabalho – DRT promoveram a vinda de um fiscal. Quanto ao fato, colaborei para uma fiscalização e protegi um trabalhador que, em verdade, não era gente, era um simples robô.
Que mancada!
O suposto crime contra os Direitos Humanos de um cidadão só havia no meu mais conflitante entendimento...
Isso mesmo!