Marco Pezão
Clima de copa do mundo. Ruas pintadas, bandeiras em balões no ar. O verde amarelo em frenesi. A cidade estufa o peito. Afinal é o nosso time que está jogando. É o Brasil em busca do hexa, na Alemanha.
São noventa minutos de total ausência. Bares lotados. Famílias e amigos reunidos. Olhos grudados na televisão e corações ansiosos.
A bola rolando. Depois de certa pressão inicial, a seleção cisca e não encanta. Os pés não justificam o melhor futebol do mundo. Mas não há o que temer. Os brasileiros possuem a genialidade.
E para comprovar, Kaká recebe o passe de Cafu, acha o espaço no meio, levanta a cabeça, e de pé esquerdo envia nossa alegria em direção à malha da gaiola.
Goooool! Como é bom gritar gol. Aqui é Brasil e não tem para ninguém.
Veio a segunda etapa e a falta de inspiração brasileira motiva os croatas a se arriscarem em busca do empate.
Por uma, duas, três vezes o goleiro Dida defendeu a meta. A cada escanteio cobrado pelo adversário, um nó na garganta se faz.
O Ronaldo Fenômeno manteve-se anônimo. O quadrado mágico perdeu o coelho na cartola. As jogadas não encaixaram. O Brasil mostrou-se um time comum e, mesmo com a entrada de Robinho no lugar do artilheiro mor, não conseguiu se impor como deseja a nação de torcedores.
Ao final da estréia, o magro 1 a 0. O que vale são os três pontos, é o que dizem. Avançamos o primeiro degrau, afirmaram os jogadores. É o que todos esperam.
- Mas algo me deixa com a pulga atrás da orelha, comentou o colega depois de saboroso gole, ao término da primeira rodada de disputas. E continuou sua análise:
- Assistindo outras seleções penso numa certa química que sempre molhou a camisa canarinho: o sentimento pelo Brasil. Não o senti na preparação.
Essa geração de jogadores representada principalmente por Cafu, Roberto Carlos, Ronaldo Fenômeno, Emersom, Dida, Zé Roberto, Lúcio, ainda, Parreira e Zagallo, que se mantém de outros carnavais, encerra seu ciclo. Vitoriosa, sim. Digna, também.
Porém, no momento atual, jogam por si. Demonstram auto-suficiência e ficam arredios se por ventura são cobrados, criticados, enfim, se não são alvos dos louros, que já receberam. Assim foi Ronaldo quando da pergunta do presidente Lula, sobre seu estado físico. Nas respostas duras quanto a qualquer opinião de Pelé.
A pátria dos consagrados moços é eurodólar. E precisa ser substituída pelo amor de equipe, se possível o pátrio original. É preciso ter em mente que são capazes de absorver um país, de fulgurar sensações em milhões de pessoas.
Ninguém pode exigir que o Brasil seja campeão sempre. Existem os adversários. E bons, e aguerridos adversários. Formado por atletas que também jogam nos principais clubes europeus, centro do futebol mundial. E para enfrentá-los com possibilidade de vencer, acho que o verde amarelo do nosso time carece de humildade no preparo.
Domingo é contra a Austrália, depois o Japão, e o nível conta a favor. As buchas virão depois. Os tchecos ou italianos, provavelmente. E no terreno das hipóteses, tenho a impressão que breve deixaremos de nos reunir aqui no bar para ver o escrete jogar.
Dito o discurso, algumas pessoas o apoiaram: - “É verdade, são mercenários.” “É uma legião estrangeira.” “No fim dá tudo certo, mesmo que esteja errado!”
A vontade de ser feliz da imensa maioria do povo é também uma responsabilidade transferida aos convocados em torná-la possível. Não basta a vitória, é preciso jogar bem. E quantas são as teorias desse esporte que atinge, mexe, e provoca analises ou opiniões.
Um dos companheiros vira para o outro e diz: “Eu estou satisfeito de copas. Tive o prazer de ver Garrincha, Pelé e Maradona jogarem. Não vejo o que possa me empolgar”.
O amigo, antes de levar o copo à boca, sorri, dizendo: “Tomara que percam logo. Já foram pagos os mensalões. Os sanguessugas já sugaram o deles. E eu espero que sobre um pouco para mim. Precisamos trabalhar, produzir. Em vez da bola, fazer o dinheiro circular num verdadeiro redondo mágico”.
Brasil mostra a tua cara!
O poeta Marco Pezão
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