CENA LITERÁRIA NA PERIFERIA
Por: Alessandro Buzo
Estava eu passeando pelos blogs dos amigos Ferréz, Sérgio Vaz, Sacolinha e outros. Cara, não dá para negar, a cena literária da periferia (principalmente em SP) não para de crescer. E o melhor de tudo é que o barato não é moda, ler nunca foi moda na periferia, o barato é talento, resistência e protesto. Toda semana tem algum evento ligado a cena literária, ou alguém está lançando um novo livro, ou tem palestra de algum de nós, ou tem encontro literário, sem falar dos saraus, aí os bico num guenta. Outra coisa bacana é que vejo um torcendo pelo outro, um divulgando o que o outro faz, unidos (já disse o Ferréz), como nenhum outro movimento, nem o hip hop é tão unido, infelismente. Imagina 10 anos atrás, quase não existia nada publicado por alguém que é de fato da periferia, hoje são varios independentes, alguns em grandes editoras, outros pelo Selo Edições Toró que é 100% nosso, sem falar na "Coleção Literatura Periférica" que traz 5 livros lançados ainda esse ano pela GLOBAL EDITORA, vamos estar nas livrarias, incomodando os Paulo Coelhos e Harry Pothers da vida. Tudo isso parece um sonho, mas é a realidade, nós estamos transformando a cara da periferia, aos poucos porque ainda tem muita gente alienada pela TV e futebol mercenário, mas de pouco em pouco vamos resgatando um, depois outro. Vi essa semana 50 pessoas do EJA (adultos) ficarem uma hora e meia ouvindo eu falar sobre literatura e como isso mudou minha vida e como isso é importante para todos nós. Depois ainda queriam autografos, disse a eles que aquilo era o que eu fazia nas faculdades com o nome de palestra, cobrando R$ 800,00 para ir, mas que ali (no céu perto de casa), eles podiam chamar de bate papo, porque amanhã ou depois a gente ia se encontrar na condução, na feira, no mercado e eu não era melhor que eles em nada, só cheguei onde estou hoje (que não é grandes coisas), porque acreditei antes de todo mundo no meu talento e faço minhas coisas com profissionalismo, o barato para dar certo tem que ter profissionalismo. Veja só o Sarau da Cooperifa, toda quarta a noite (dia de futebol) e a casa cheia (um bar no extremo sul de SP), disputando horario com a novela da plim plim. Isso é o progresso. E o Sarau do Binho, para chatear é de segunda a noite, também na sul. Em Suzano tem AGENDA LITERÁRIA, pensa isso 10 anos atrás ? E o Ferréz, saiu da Favela Santiago no Capão Redondo, Jd Comercial, para conquistar o mundo, seus livros estão em varios países da Europa. Agora a ONG "Ação Educativa" lança uma Agenda da Periferia, mensal, desde Maio/07, com 10 mil exemplares, distribuição gratuita.
Assim vamos seguindo, cada dia uma luta, mas cada dia uma nova conquista. Ainda em 2007 teremos 3 coletâneas: SUBURBANO CONVICTO - PELAS PERIFERIAS DO BRASIL (org. Buzo), com 12 autores de 7 estados, teremos Rastilho de Polvorá II (dos poetas da Cooperifa), tem ainda coletânea da LITERATURA NO BRASIL de Suzano. Vem aí novos autores lançando, Marcio Batista, Robson Canto e outros. Fora esses manos que já romperam as barreiras e estão de punhos cerrados pro que der e vier, Alessandro Buzo, Ferréz, Sérgio Vaz, Sacolinha, Dinha, Allan da Rosa, Elizandra Souza, Du Guetto, Akin´s Kinte. A gente está unido, produzindo e mostrando que nosso estilo é favela, mas a favela hoje é consciente e não aceita migalhas, queremos nossa fatia do bolo e por sermos a maioria da população (periferia), queremos o pedaço maior. Enquanto isso a elite, os cheio da grana, não sabem o que fazer com a gente, estamos roubando sem arma, o lugar do filho dele e isso lhe parecia impossivel, enquanto estavamos amassados nos transportes coletivos, os seus filhos estavam em caros colegios particulares e depois nas melhores faculdades, como hoje nos levantamos a bandeira da literatura e seus filhos só quer saber de balada eletronica, movido a "doce". Estão cozinhando o celebro e nós no maximo tomando umas brejas e fumando um ligeiro com os covardes. Descobrimos que a caneta vale mais que a escopeta, de oitão na mão, iamos para cadeia e caixão, escrevendo nós estamos escrevendo nossa propria história. Para não precisar mais ser tese de faculdade, rato de laboratório de nenhum boyzinho de olho azul, só quem sobe e desce as ladeiras, cruza seus becos e vielas, sabe como é, se a elite quiser saber, compre nossos livros, mas pru rolê com nóis, seis num vai. Ai o sociólogo, o numerologo, o seilaoquelogomo, diz: - Eles escrevem tudo errado. Desculpem-nos por isso, é que não escrevemos em portugués e sim em favelés, é mais facil que o inglés. Fé em Deus escritores e poetas da periferia, a luta só começou, ainda temos muito que fazer, afinal foram quinhentos anos de escravidão, alienação e não é facil mudar. Mas vamos chegar lá.
Dedico esse texto ao Preto Ghoéz, in memoriam.
Alessandro Buzo é escritor
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