O local é conhecido como jardim Etelvina, Zona Leste de São Paulo. A casa fica numa rua estreita, dessas que se parecem com vielas.
Dentro dessa residência mora Dona Leide, mulher de seus sessenta e dois anos de idade. Produz artesanato para vender e pra passar o tempo, morar só nem sempre é bom.
De dia sua casa de quatro cômodos está cheia de clientes apreciando as obras de arte dessa senhora, mas quando á noite vai caindo ela começa a ficar só, aguardando a chegada da sua companheira noturna que automaticamente convida a outra para fazer companhia á Dona Leide.
A casa foi fruto de muito esforço. Ela foi uma dentre variadas mulheres que contribuía mês a mês com a arrecadação do mutirão para as casas próprias. Era na chuva ou no sol, Dona Leide estava bem viva, mexendo a massa de areia, cimento e água, ás vezes concreto. Houve o dia em que mesmo com o braço direito fraturado, ela estava carregando bloco, sempre na sede de ver o seu sonho realizado, ter a sua casa própria e parar de morar de favor nos cantos de São Paulo.
Muitos desistiram, outros voltaram de onde vieram, e alguns decidiram continuar morando na favela do que ter que dar o sangue por algo que não teriam certeza que estariam vivos para usufruir. Puro egoísmo.
Após muita garra seguida de várias discussões, Dona Leide conseguiu a sua casa. Não era exatamente onde ela queria, mas o mais difícil foi conquistado. Depois dessa grande vitória, praticou alguns meses de artesanato e em pouco tempo saiu falando com as mãos. Ela é admirada no bairro onde mora pelas flores que faz, pelos vasos produzidos com amor, as banquetas feitas de garrafas pet e pelas redes tecidas com ferocidade feminil. Até o governador de São Paulo e a primeira dama do Brasil já foram seus clientes.
O dinheiro de sua aposentadoria mais o dinheiro das vendas de artesanatos é o suficiente para ela comer, beber, pagar as contas, e sair para curtir um bom forró nos bailes da terceira idade. Mas que forró que nada, até que ela adora um arrasta-pé e um rala coxa, mas sem um bom parceiro não dá.
A noite vem chegando. Dona Leide sentada no sofá da sala suspira fundo, termina de dar barra na calça e olha o passarinho na gaiola pendurada ao teto. Queria ser igual a ele, que mesmo preso na gaiola e sem par nenhum do seu lado, ainda canta e pula de um lado para o outro.
Mais um suspiro.
Ela agora entende porque muitas pessoas da alta classe acabam caindo na depressão. Ter uma casa para morar e dinheiro para viver não é tudo, o ser humano é sentimental e imprevisível.
Ela levanta do sofá e começa a preparar sua janta. Dá risada quando olha para o pouco de comida que começa a fazer. Na verdade o que queria era chorar, mas ás vezes o triste se torna engraçado.
Enquanto o fogo seca a água do arroz, ela vai tomar banho. Sai do quarto pelada mostrando o seu corpo em degradação para as paredes brancas e encardidas pelo tempo.
Após o banho e a janta Dona Leide percebe que a sua companheira já chegou. É assim mesmo, chega sempre sem bater, nem pergunta como foi o dia de Dona Leide e já dá o abraço angustiante na velha.
Neste momento a única que resta é a terceira companheira, só assim para ela suportar a presença da outra.
Caminha até a cozinha, se abaixa diante da pia e agarra a garrafa. Sem cerimônias e maiores preliminares enche metade do copo de vidro e bebe sem pestanejar.
Após apagar as luzes ela entra no quarto, encosta a porta e vai se deitar, Dona Leide, a solidão e a pinga, as três companheiras.
Dentro dessa residência mora Dona Leide, mulher de seus sessenta e dois anos de idade. Produz artesanato para vender e pra passar o tempo, morar só nem sempre é bom.
De dia sua casa de quatro cômodos está cheia de clientes apreciando as obras de arte dessa senhora, mas quando á noite vai caindo ela começa a ficar só, aguardando a chegada da sua companheira noturna que automaticamente convida a outra para fazer companhia á Dona Leide.
A casa foi fruto de muito esforço. Ela foi uma dentre variadas mulheres que contribuía mês a mês com a arrecadação do mutirão para as casas próprias. Era na chuva ou no sol, Dona Leide estava bem viva, mexendo a massa de areia, cimento e água, ás vezes concreto. Houve o dia em que mesmo com o braço direito fraturado, ela estava carregando bloco, sempre na sede de ver o seu sonho realizado, ter a sua casa própria e parar de morar de favor nos cantos de São Paulo.
Muitos desistiram, outros voltaram de onde vieram, e alguns decidiram continuar morando na favela do que ter que dar o sangue por algo que não teriam certeza que estariam vivos para usufruir. Puro egoísmo.
Após muita garra seguida de várias discussões, Dona Leide conseguiu a sua casa. Não era exatamente onde ela queria, mas o mais difícil foi conquistado. Depois dessa grande vitória, praticou alguns meses de artesanato e em pouco tempo saiu falando com as mãos. Ela é admirada no bairro onde mora pelas flores que faz, pelos vasos produzidos com amor, as banquetas feitas de garrafas pet e pelas redes tecidas com ferocidade feminil. Até o governador de São Paulo e a primeira dama do Brasil já foram seus clientes.
O dinheiro de sua aposentadoria mais o dinheiro das vendas de artesanatos é o suficiente para ela comer, beber, pagar as contas, e sair para curtir um bom forró nos bailes da terceira idade. Mas que forró que nada, até que ela adora um arrasta-pé e um rala coxa, mas sem um bom parceiro não dá.
A noite vem chegando. Dona Leide sentada no sofá da sala suspira fundo, termina de dar barra na calça e olha o passarinho na gaiola pendurada ao teto. Queria ser igual a ele, que mesmo preso na gaiola e sem par nenhum do seu lado, ainda canta e pula de um lado para o outro.
Mais um suspiro.
Ela agora entende porque muitas pessoas da alta classe acabam caindo na depressão. Ter uma casa para morar e dinheiro para viver não é tudo, o ser humano é sentimental e imprevisível.
Ela levanta do sofá e começa a preparar sua janta. Dá risada quando olha para o pouco de comida que começa a fazer. Na verdade o que queria era chorar, mas ás vezes o triste se torna engraçado.
Enquanto o fogo seca a água do arroz, ela vai tomar banho. Sai do quarto pelada mostrando o seu corpo em degradação para as paredes brancas e encardidas pelo tempo.
Após o banho e a janta Dona Leide percebe que a sua companheira já chegou. É assim mesmo, chega sempre sem bater, nem pergunta como foi o dia de Dona Leide e já dá o abraço angustiante na velha.
Neste momento a única que resta é a terceira companheira, só assim para ela suportar a presença da outra.
Caminha até a cozinha, se abaixa diante da pia e agarra a garrafa. Sem cerimônias e maiores preliminares enche metade do copo de vidro e bebe sem pestanejar.
Após apagar as luzes ela entra no quarto, encosta a porta e vai se deitar, Dona Leide, a solidão e a pinga, as três companheiras.
Ademiro Alves (Sacolinha),
faz da escrita, um instrumento
de desabafo. Atualmente procura editora
para lançar o seu primeiro romance:
Graduado em marginalidade!
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