08 março, 2005

Entrevista do mês

O entrevistado desse mês é o escritor e rapper Ferréz. Morador do bairro Capão Redondo, na Zona Sul de São Paulo, escritor de 3 livros, colunista da revista Caros Amigos, criador do Movimento 1 da Sul e do estilo polêmico "Literatura Marginal"

L.B- Você já tem 3 livros lançados, é colunista da revista Caros Amigos, sempre tem alguém te pedindo um texto, uma entrevista ou uma palestra. Você não tem formação acadêmica. O seu talento e técnica vem de onde?
Ferréz: Acho que dos treinos constantes, acredito muito que a leitura me ajuda nisso, hoje leio mais de 3 horas por dia, e sempre escrevi muito, desde poesia a letras de rap, é treino.

L.B- As suas expectativas foram superadas?
Ferréz: Quase todas, ainda falta eu terminar um livro infantil e tenho outros projetos.

L.B- Por que o livro intitulado “Diário de uma favelada” de Maria Carolina de Jesus, que foi lido em 24 países, não se tornou um clássico?
Ferréz: Boa pergunta, mas é um clássico para nós, que nos identificamos.

L.B- Há dois anos atrás quando estava gravando o seu Cd, você chegou a afirmar em algumas entrevistas que não faria shows por que isso é ilusão, mas depois que o trabalho esteve pronto, muitos locais te chamaram para se apresentar e você aceitou. O show do Ferréz não é uma ilusão?
Ferréz: É verdade, aceitei dois shows porque tinha no contrato da gravadora, depois parei em definitivo, tudo que sobe no palco e depende de luzes e apetrechos é uma ilusão, nisso eu errei, mas estava no contrato.

L.B- Nesse ano de 2005 o escritor Sacolinha irá colocar nas livrarias o seu primeiro livro, você que já leu esse romance, o que achou?
Ferréz: Achei bom por ser tratar de um primeiro livro, quem me dera que meu primeiro fosse assim. Tem futuro o moleque, e é legal ver o crescimento, vi desde o primeiro conto dele e é legal ver a evolução.

L.B- Os escritores quando não são nacionalmente conhecidos, sempre encontram dificuldades para lançar o seu livro por uma editora. Como foi para lançar o seu primeiro livro “Fortaleza da desilusão”, e como se deu o lançamento do segundo “Capão Pecado?”·
Ferréz: Foi muita luta e quase enlouqueci no meio da fita, mas não tem uma regra, o nome do talento é esforço.

L.B- Qual é o primeiro passo para a independência literária?
Ferréz: Fazer o que você acredita, e não se prender em fórmulas.

L.B- Há muitos escritores conhecidos que apenas são respeitados por conta do nome. Na periferia o talento é como o leite fervendo na panela, mas o devido reconhecimento não tem, pois falta um nome. Por que esse contraste?
Ferréz: Não entendi a pergunta, mas acho que o nome também vem de um trabalho, e os que só tem o nome e não escrevem bem não vão muito longe.

L.B- Você sempre costuma dizer: “Leiam muito”.O que a leitura pode fazer por uma pessoa sem atitude e sem articulação?
Ferréz: Dar atitude, articulação e fazer ela viver com mais intensidade.

L.B- Quais são as suas influências literárias?
Ferréz: Várias, hoje leio muita coisa, Des Hemingway, Hesse etc.

L.B- Por que “Literatura Marginal” e não apenas “Literatura”?
Ferréz: Porque somos da margem, somos de algum lugar bem esquecido, não somos como eles, e nem queremos ser, somos de um país marginal, um lugar que só há deveres e não direitos.

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