30 julho, 2005

Poesias...

Confira entrevista com o escritor e roteirista Fernando Bonassi no site do escritor Alessandro Buzo: www.suburbanoconvicto.blogger.com.br

Adeus
(Por Sérgio Vaz)

Faltam-me palavras
A lâmina do medo
Percorre minha garganta
Tenho medo de soprá-las
E manchar meu corpo de sangue
Com o veneno da minha calma.

Sigo sem nome.

Falta-me luz
A sombra em círculos
Rastreia meu caminho de pedras
Que se amontoam em minha frente.
Tenho medo de topa-las
No escuro do deserto
E cair em braços diferentes.

Sigo sem rumo.

Faltam-me gestos
O silêncio do corpo
Devora minha alma
E a calma se manifesta
Em braços pálidos
E em passos curtos.
Tenho receio de dançar
No sustenido mortal desta orquestra
Regida pelo labirinto da vida.

Sigo imóvel.

Falta-me alegria
O espinho das lágrimas
Espetam minha face
Falida de afagos,
E a adaga triste da solidão
Fere meus lábios,
E com a ferrugem do meu beijo
Tenho medo de contaminar
A multidão.

Sigo triste.

Falta-me ar,
Adeus.

Sérgio vaz


A ÚLTIMA DOSE

Só depois do último copo
De carregar a última cruz
De discutir o único voto
E de apagar a última luz.
Só depois da saideira
Da última canção
De arrancar a última nota
Da carteira e do violão.
Só depois da última dose
De sorrir o último sarro
E de amargar a última cirrose.
Só depois do último gol
De sambar com a única dama
Ser tema do último show
E de pendurar a última Brahma.
Só depois de extorquir a última graça
De relembrar a última festa
De esquecer a última desgraça
E de esperar pela próxima sexta.
Só depois de cerrar a última porta
De trançar numa única perna
De girar os olhos na última volta
E de beijar a última brasa
É que eu vou me perguntar
Se estou indo pra casa
Ou se estou saindo do lar.

Sérgio Vaz

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Sobre choro e nó na garganta

Trecho do livro "Dente-de-leão: a sustentável leveza de ser" - Escritor Sacolinha