REVISTA DA FOLHA ATRAVESSA NO SARAU DA COOPERIFA
Neste domingo o jornal Folha de São Paulo veio com uma matéria sobre escritores da periferia comandada pelo escritor Joca R. Terron. Ele teve a missão de contar a história de alguns deles, no caso, eu, Alessandro Buzo (que conseguiu a matéria), Sacolinha e a Dinha. Até aí tudo bem, pois a única mancada foi um problema de edição, em que parece que somos nós os criadores da FLAP, mas que ele se explica no seu blog (www.heelhotel.blogger.com.br) e dá os devidos creditos a quem merece, Ana Rusche e o pessoal do projeto identidade.
As fotos do João Wainer ficaram muito loucas. Rara sensibilidade. Ele entendeu como poucos o que é realmente o sarau da Cooperifa e seus poetas.
Já a jornalista, Marianne Piemonte, que esteve no sarau e escreveu a matéria "Salve, guerreiros"- na mesma revista-, parecia que estava em outro lugar, tamanha falta de sensibilidade. Começa dizendo que os documentários que a gente apresenta antes do sarau "entretém" as pessoas, quando na verdade educa. O cine becos e vielas tem apresentado vários curtas e documentários para nos suprir a falta de cinema e nos desentoxicar do excesso de filme americano que nos enfiam goela abaixo. Entendeu?O sarau vai completar cinco anos de vida, por isso, quando ela diz que os curiosos começam a rondar desconfiados (com o quê, com a poesia?), recebem um salve e não atravessam. Ali ninguém atravessa e nunca atravessou, aliás, nós que atravessávamos a ponte para ter cultura, e hoje, alguns amigos estão fazendo o caminho contrário, só para nos ver. Eu disse os amigos.
Diz também que ao ouvirmos um barulho de uma brasília velha lançamos olhares poucos amistosos para o veículo. Nós não temos olhares poucos amistosos, nós somos amistosos! Apesar de tudo e de todos, nós somos amistosos. Apesar da nossa poesia contundente, somos amistosos. O que não pode ser confundido com exóticos. Nunca, nós não permitimos isso.
Quando ela se refere ao que eu disse referente à USP comete outro equívoco. Não quero colocar a malandragem lá (que malandragem?), muito pelo contrário, gostaria que a malandragem saísse de lá.
As mulheres negras são enaltecidas, mas há também loiras por lá, que também são bem-vindas, mesmo depois da reportagem que afirma que elas não frequentam o sarau. Todos são bem-vindos: poetas, escritores, branco, preto, amarelo, atores e atrizes, cineastas, músicos, artistas em geral, e principalmente, a comunidade, a nossa razão de ser.
Nós que sofremos tantos preconceitos não somos capazes de cometê-los. Nem com jornalistas.O envolvimento dela com o sarau foi tanto que me chama de Sandro na matéria, o mc Sandro Vaz. "Eu só quero é ser feliz...". Esse tal de Sandro até que me ajudou a se defender das críticas que estou recebendo pelo telefone e pelos e-mails que não param de chegar. O povo tá indignado, alguns acham que, por conta das palavras inseridas no texto da matéria -truta, ronda, olhares poucos amistosos, capuz, desconfiados, ficam de boa, não atravessam, etc.-, mais parecia uma reportagem do Brasil Urgente, do Datena, e não um sarau de poesia.
Se ela soubesse o quanto a gente tem feito e faz por um mundo melhor na periferia...
Aos que conhecem e frequentam o sarau da Cooperifa, e que já leram e viram outras matérias positivas sobre nós, peço que desconsiderem essa deselegância cometida pela jornalista na revista da folha. Seguiremos, mesmos com as pedras no nosso caminho.
A todos que se sentiram ofendidos com a falta de sensibilidade da matéria, eu peço desculpas, foi eu quem deixou a porta aberta. No mais, todos são bem-vindos. Todos!
Sérgio Vaz, poeta!
31 julho, 2006
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