CHEGA, O CORPO
Nada piora, nada disso
piora. No lugar do corpo onde doeria,
os poros fecharam. Quem foi, poesia,
que o corpo mandou?
Mandou fechar o portão,
cansado de ficar lá
espiando o mecanismo próprio
de inventar futrica.
Inventa que não está,
copia a palavra estrela
e deita, não quer saber.
Joga alto quando se ri
dum anúncio de jazigo
no cemitério fulano.
Não se mandou correndo,
corpo franzino que era
quando mandaram correr.
Esperou todos saírem;
foi emburrando com todos.
E, da cortina, espreita
com os muitos olhos que têm.
O que tinha de piorar
ele não vê, não tem mais.
O corpo é a boca aberta.
Já disse tudo ao dizerque chega.
Silvio Diogo
02 agosto, 2006
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