13 outubro, 2008

[NOEL ROSA... - UNIDOS DE VILA ISABEL...- BOEMIA...-A FAMA DE UM BAIRRO... - UMA VISÃO SETENTA ANOS DEPOIS...!]

Eu diria:... – “Há mais entre a luz e as trevas, o branco e o negro, o certo e o errado, a vida e a morte, o bem e o mal, o sagrado e o profano, o céu e o inferno, a emoção e a razão do que imagina a vã filosofia da vida”.
Imagine-se toda a população do mundo, hoje, em torno dos seis bilhões e meio de pessoas vivendo em paz, imagine-se que não existam nações, que todo o mundo fale a mesma língua, que todos os seres tenham o mesmo ideal, os mesmos desejos (a paz), a mesma filosofia de vida, que valorizem tanto os valores transcendentais quanto os valores reais, que ame tanto o branco quanto o negro ou o amarelo... – “Isto é sonho ou é realidade?”.
O astro da música Pop americana John Lennon pensava assim em muitos dos temas acima descritos... – sim ou não?
Pois bem, na sociedade humana, aliás, toda a sociedade é humana, portanto aquele que disser “sociedade humana” não deixa de ser um verdadeiro prolixo, há um emaranhado de pensamentos, uma faina de personalidades, uma aglutinação de razões e de sentimentos.
Quero falar de um desses sentimentos, de uma dessas razões de existência, de um mito... – “Noel Rosa”.
Estamos no limiar do século vinte, a República Federativa do Brasil é uma realidade, do dia da proclamação da república, fato que pôs fim à monarquia iniciada por Pedro de Alcântara Francisco Antônio João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Serafim Cipriano de Bragança e Bourbon, até agora, se passaram longos vinte e dois anos e o planeta Terra tramita, no espaço, no ano de mil, novecentos e onze depois de Cristo em derredor da estrela Sol.
Neste ano, ali mesmo, no lendário bairro de Vila Isabel surge no “Teatro da Existência” o artista “Noel Rosa”, solteiro convicto, boêmio, talentoso, poeta... – et coetera!
De sua pena, de suas pautas e dos seus acordes quer no violão ou no cavaquinho saíram versos ou melodias do tipo:
“Nosso amor que eu não esqueço”,
“e que teve o seu começo,”
“numa festa de São João,”
“morre hoje sem requinte, sem foguete,”
“sem retrato na parede,”
“sem luar e sem violão,”
“perto de você me calo,”
“tudo penso e nada falo”
“tenho medo de errar,”
“diga que você me adora,”
“que você lamenta e chora,”
“a nossa separação,”
“e as pessoas que eu detesto,”
“diga sempre que eu não presto,”
“que o meu lar é um botequim,”
“que eu arruinei a sua vida,”
“que eu não mereço a comida,”
“que você paga para mim!”.
De sua mente fértil e privilegiada jamais foi alijada a idéia e a razão de uma atividade chamada “boemia” porque a maioria de suas canções nasceu entre copos de cerveja apostas as mesas de um bar ou no silêncio sepulcral das madrugadas banhadas pelo orvalho gélido das noites Vila Isabelenses. A grande maioria de seus versos se estruturou diante do giro orbital de um planeta chamado “Etílismo” e teve o inspirar do álcool como um verdadeiro bálsamo para a vida Noelina... – “Assim era o Noel Rosa!”.
O grande mal do século vinte; a “Síndrome da Imunodeficiência Adquirida – AIDS não havia, ainda, dito:... – “Eis-me aqui!”.
Na contramão de todos os nossos pensamentos, o mal do século dezenove, o “Bacilo de Koch”, fazia tantas vítimas quanto nos anos mil e oitocentos quando surgira, pois a doença, como aspecto de epidemia, não havia, ainda e até então, sido erradicada.
Qualquer descuido poderia ser transformado em uma fatalidade com a morte vindo, simplesmente, buscar mais um para dormir com ela no túmulo frio da inexistência.
Assim, a boemia, a alimentação inadequada, a falta dela, o descanso irregular, o excesso das farras e a falta de cuidados especiais fizeram de “Noel Rosa” uma presa fácil para que a “Tuberculose”, esse o mal do século dezenove e, pelo menos, início do vinte adquirisse o nefando “Bacilo de Koch”.
O maior vilão de morte daquela época, a tuberculose, fazia, via de regra, uma faina de vítimas e com a personalidade aqui personificada não poderia ser diferente; “Noel Rosa”, presa fácil, nada fez para se cuidar e, com isso, desenvolveu o mal que, não muito tempo depois, haveria deitá-lo, eternamente, no túmulo frio da inexistência.
A fatalidade o estreita, cada vez mais, em seus braços ameaçadores; deseja levá-lo até as pedras gélidas do túmulo e deitar-se com ele para o gozo pleno na eternidade... – está resoluta!
Que fazer?
Nada!
Aguço os meus tímpanos e, por instantes, pareço ouvir as palavras do célebre “Imperador Romano Julius Caesar”... – “Alea jacta est! (A sorte está lançada!). ou vence o” Noel Rosa “ou vence a fatalidade...”.
Se vencer a fatalidade, certamente, o gênio irá compor junto aos anjos dos céus, se vencer o “Noel Rosa” o mundo desfrutará um pouco mais da sua companhia, da sua boemia e das suas maravilhosas canções; contudo, a incógnita está instalada, o abismo está aberto ante nós... – “Quem vencerá esta contenda?”.
Os dias são como as pérolas dos rios, os dias fluem diante da eternidade da existência como as pérolas fluem sobre o fundo lodoso dos rios, os perfumes da vida transformam-se, lentamente, nos não agradáveis odores da morte; estamos, agora, nos idos de mil, novecentos e trinta e sete e o jovem na primavera de sua existência, no profícuo estado de jovialidade à luz dos seus vinte e seis anos sente, e por que não, o lento subjugar da morte sobre a vida.
Ele está diante de uma pergunta crucial...
Quem herdará os frutos do seu talento?
O filho?
Que filho?
Como se sabem, na ausência de um herdeiro legal, os bens que possuímos são herdados pelo governo

Poesia nos muros

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