07 outubro, 2005

Buzo!

VAI TER FUTURO COMO ?
Por Alessandro Buzo

A vida nunca foi um conto de fadas para Clovis que desde muito pequeno era chamado de Feijão, dos 5 irmãos era o unico que encarava sem maiores reclamações o feijão puro com farinha de mistura. Sua mãe ganhava muito pouco em casa de familia, se matando de domestica para as madames de Moema, Jardins, Cerqueira Cesar. Seu pai é um inutil que nunca trabalha e obriga os 3 menores a pedir no farol, ao meio dia e a noite eles vem lhe dar o que ganharam, ele bebe quase tudo de pinga e ainda bate neles. O irmão mais velho saiu de casa e vive de assaltos e as vezes trafico, sua irmã cuida da casa, faz comida (quando tem) e estuda. Assim caminhou as coisas até que um dia seu pai alcolizado abusou sexualmente da propria filha que aos gritos foi socorrida por vizinhos que lincharam seu pai, ele nunca mais voltou da cadeia e alguns meses depois foi assassinado numa rebelião numa penitenciaria. Com a morte do pai as coisas pareciam que iriam melhorar, mas sua irmã foi embora com um senhor mais velho e sua mãe adoeceu, Feijão e seus outros dois irmãos continuaram no farol, não mais para sustentar a pinga do pai, mas agora para sobreviverem e também comprar remedio para mãe. O que era ruim ficou pior quando sua mãe faleceu, o enterro humilde foi pago com ajuda dos vizinhos, seus dois irmãos já não viviam quase em casa e depois da morte da mãe foram morar na rua. Feijão recebeu então uma proposta de um traficante, vender cocaina, pedra e maconha. Começou assim sua vida no crime, mas hoje Feijão é forte e tem 20 anos, comanda uma quadrilha de traficantes que domina seu bairro. As dividas dos usuarios são cobradas a bala e Feijão é inescrupuloso, não tem dó de ninguém, afinal ninguém nunca teve dó dele. Além do trafico eles faziam também assaltos a casas de luxo no Morumbi e região. Um dia ia Feijão e mais dois num assalto que lhe disseram iria render uma boa grana, entraram na casa e renderam a empregada, Feijão nunca era cruel com as empregadas, elas lembravam sua mãe. Perguntou quem estava na casa e a empregada disse que só a patroa, ao invadir o quarto viu a tal patroa dormindo, ela acordou com o susto e qual não foi a surpresa ao ver quem era. Na sua frente estava a sua irmã que um dia partiu e nunca mais voltou nem deu noticias. Feijão perguntou porque ela não ajudou eles, se ela sabia que a mãe havia morrido e ela explicou que o senhor com quem se casou exigiu que ela os esquecesse totalmente. Feijão sentia um ódio correr por suas veias, uma revolta pelo abondono da irmã e não sabia o que fazer, os seus dois parceiros aguardavam suas ordens. Foi quando Feijão percebeu a casa cercada pela policia, um vizinho viu eles entrarem. Pensou em matar sua irmã, mas não teve coragem, pegou ela de escudo e saiu da casa, entrou no carro da familia e tentou furar o cerco da policia. Foi morto junto com os comparsas, sua irmã não falou do parentesco com o bandido morto e Feijão foi enterrado como indigente porque não tinha documentos e nem teve ninguém para ir atrás do corpo no IML. Uma vida de dor e crimes, que começou com uma familia desestruturada por um pai alcolatra.

Alessandro Buzo
alessandrobuzo@terra.com.br

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