DADOS BIOGRÁFICOS
Marçal Aquino nasceu em Amparo, no interior paulista, em 1958. Jornalista, atuou como revisor, repórter e redator, com passagens pelos jornais O Estado de S.Paulo e Jornal da Tarde. Atualmente, trabalha como jornalista free-lancer. Autor de ficção adulta e juvenil, recebeu diversos prêmios por seu trabalho literário, como o primeiro lugar na categoria conto da 5ª Bienal Nestlé de Literatura (1991) e o Prêmio Jabuti (2000).
Seu trabalho em cinema inclui a roteirização de textos de sua autoria (Os Matadores, Ação entre Amigos, O Invasor e O amor e outros objetos pontiagudos) e o desenvolvimento de roteiros originais (Nina). A convite do Sundance Institute, atuou como consultor no IV Laboratório de Roteiros Sundance/RioFilme, realizado em 2000.
L.B: Como você conseguiu lançar o seu primeiro livro?
Meu primeiro livro, um volume de poemas chamado “Por bares nunca dantes naufragados”, foi lançado por uma editora pequena, de Campinas, graças ao interesse de um professor que tive na universidade.
L.B: Nos fale da sua mania de ouvir as conversas alheias.
Tenho claro que minha literatura nasce na rua, da observação das grandezas e indigências de que é capaz a maravilhosa espécie humana. Sempre é isso, algo do real, que deflagra a vontade de escrever e a minha imaginação. Daí, dentro desse “processo” de observação, as conversas alheias são uma matriz muito rica. Não tenho pudor de dizer que presto muita atenção no que as pessoas dizem umas às outras. No mínimo, aprendo a escrever diálogos.
L.B: Quando está escrevendo você se preocupa com as técnicas literárias?
A linguagem nunca é meu primeiro interesse. Me interessa ou a trama ou o personagem. A técnica vem a reboque disso. Procuro apenas botar no papel aquilo que vem à minha cabeça, sem grandes preocupações com linguagem.
L.B: Qual a sua opinião em relação á literatura de auto-ajuda?
Eu não considero literatura os livros de auto-ajuda. São outra coisa. Talvez receituários que fazem bem à alma de algumas pessoas, mas não à minha.
L.B: E a Literatura Marginal?
Sabe que, no fundo, toda literatura (independentemente da temática ou da forma de publicação) pode ser chamada de marginal no Brasil? É o que eu acho. Afinal, o que são 3 mil exemplares (tiragem média dos livros) num universo de quase 200 milhões de brasileiros?
L.B: Anatole France diz: “Acaricie o texto até que ele sorria para você”. Os seus textos são muito trabalhados?
Como eu disse, a técnica nunca é uma preocupação primordial para mim. Escrevo do jeito que posso, à mão, em cadernos, e na hora de passar para o computador faço um trabalho de correção e cortes. Não vai muito além disso.
L.B: Por que você não escreve poesia?
Eu já escrevi poesia. Mas sou muito exigente. E acabei chegando à conclusão de que aquilo que eu chamava de poesia era, na verdade, prosa disfarçada – imagine: meus poemas tinham tramas e até personagens. Daí que, por respeito à verdadeira poesia (de gente como Drummond, Bandeira, Murilo Mendes e Jorge de Lima, meus favoritos), abandonei completamente qualquer veleidade de poeta, e passei a dedicar todo meu esforço à prosa.
L.B: As editoras costumam encomendar com os escritores renomados, livros que falem do assunto que está chamando a atenção no momento. Já aconteceu isso com você?
Eu não tenho nenhum problema com os “textos encomendados”. Basta que eu tenha tempo, interesse no tema e que ache que tenho algo a dizer sobre aquilo.
L.B: Você se mantém financeiramente do que escreve, ou tem algum trabalho paralelo?
Eu vivo do meu trabalho como jornalista free-lancer, e não de literatura, nem dos roteiros que escrevo para o cinema, que apenas ajudam a pagar as contas em casa.
L.B: Tem influências literárias?
Acredito que muita gente me influenciou. Mas não só gente da literatura. O cinema sempre me influenciou, desde garoto. Na verdade, eu acho que tudo influencia um escritor. A vida, enfim.
L.B: Como você encara a relação editora e escritor desconhecido?
Atualmente, está um pouco melhor do que no tempo em que comecei a tentar publicar meus textos. Há muitas editoras, de todos os tamanhos, que estão dispostas a ler um original de um estreante. Basta que o livro certo chegue às mãos certas. Nesse aspecto, continua como naquele tempo: tudo que um escritor iniciante precisa é de perseverança. Afinal, antes de mais nada, ele precisa acreditar naquilo que está pretendendo publicar. Acreditar com o coração cheio de paciência e tolerância para eventuais rejeições.
L.B: O que é o livro de contos “O amor e outros objetos pontiagudos?”.
O livro O amor e outros objetos pontiagudos, publicado em 1999 pela Geração Editorial, era parte de um projeto que criamos chamado “Território Brasileiro”, que incluiu ainda O pavão misterioso, de Roniwalter Jatobá, e O céu e o fundo do mar, do Fernando Bonassi. No meu caso, era um conjunto de contos em que eu vinha trabalhando fazia anos – meu livro anterior era de 94. Então nesses cinco anos escrevi alguns relatos, deixei outros pela metade. Acho que o livro fala, sobretudo, de amor, dos vários tipos de amor. E de outras coisas também, dos tais “objetos pontiagudos”.
L.B: Todo artista tem ou vive um momento de reflexão sobre a vida. Alguns deles acabam se suicidando, bebendo, se drogando ou desistindo de tudo. Você já passou por um momento assim?
Não, minha vida é absolutamente normal.
L.B- Realismo, Simbolismo, Modernismo e agora a época Contemporânea. Como podemos chamar a próxima época?
Não tenho a menor idéia de como vão chamar esta nossa época.
L.B: Quer falar algo que não perguntamos?
Está sendo lançado nesta semana pela Companhia das Letras meu novo romance, Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios, com o qual estou comemorando vinte anos da publicação do meu primeiro livro.
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Olá, meu nome é Maria Laura Cravo e estou trabalhando em cima de um livro seu. Gostaria de entrar em contato com você para falar sobre isso. Como eu faço?! O meu e-mail é laurahcravo@gmail.com
ResponderExcluirObrigada
Grande escritor.
ResponderExcluirJá li um livro dele e estou procurando outros para ler. Inclusive este lançamento.
Ps: nossa época é chamado de comercialismo. Ou venderismo - já não se sabe a quem prestigiar.