Com Fernando Bonassi...
L.B: Quando você teve o interesse pela leitura e pela escrita?
Bonassi: Aos 12 anos me apaixonei por uma menina que não me olhava na cara. Comecei a escrever bilhetes pra ela, que não enviava... apesar de não enviar, me sentia mais aliviado ao escrever, ao relatar pra mim mesmo o drama desse amor. Percebi que queria isso, me aliviar do peso de uma existência sem graça. Por isso escrever.
L.B: A escritora Nélida Pinon disse que o papel do escritor é de despertar a ira de uma consciência. Qual o seu papel como?
Bonassi: Escrever é aliviar-se e colocar um ponto de vista no mundo, dar uma pernada na morte e aprender a aproveitar o prazer. O livro ajuda, mas a consciência desperta por sua própria experiência.
L.B: Qual a sua formação acadêmica?
Bonassi: Sou formado em cinema na USP.
L.B: Quais as suas influências literárias?
Bonassi: Li Henry Miller e Graciliano Ramos como se fossem bíblias!
L.B: Por que você não escreve poesia?
Bonassi: Não vejo diferença entre prosa e poesia. Talvez a única seja que os chamados poetas não encham a página de letrinhas, o resto, quando bom, é igual.
L.B: O livro "Graduado em Marginalidade" do escritor Sacolinha, será lançado neste ano. Você que já leu essa obra nos fale o que achou?
Bonassi: A periferia vista por seus habitantes é o mais importante fenômeno cultural brasileiro nos últimos dez ou vinte anos.
L.B: Tem idéia de quantas cópias de todos os seus livros já foram vendidas?
Bonassi: Alguns milhares, mas tenho 19 livros publicados. Não vendo muito livro. Vivo deles, de artigos e palestras. Fiz um pacto de não fazer propaganda ou jornalismo, que são a morte do escritor.
L.B: Você foi co-roteirista de diversos filmes que usa a temática da violência e também co-roteirista do programa Castelo Ra Tim Bum da TV cultura. Nos fale dessa experiência, tendo em vista que os filmes envolvem as drogas e a violência no geral e o programa Castelo Ra Tim Bum aborda a questão da educação e do lado infantil.
Bonassi: Escrever pra cinema é, a cada trabalho, mergulhar num mundo novo. Me preparo (lendo, refletindo, entrevistanto gente experiente) pra cada filme e aprendo com ele. Quando a pesquisa e a escrita é feita sem compromissos sacanas, o publico sente e o filme é apreciado. Gente grande ou pequena precisa ser tratada com clareza!
L.B: Você está sempre escrevendo algum livro, um roteiro, uma coluna para um site ou para um jornal. Ás vezes não lhe falta o que escrever?
Bonassi: Eu gosto de escrever e passo o dia fazendo isso. Quando a vontade é fraca, ouço meus rocks, leio alguns escritores e me aqueço.
L.B: Hoje você vive de literatura?
Bonassi: Vivo de tudo o que faço junto: livros, artigos, palestras, roteiros e peças de teatro. Um escritor brasileiro tem que ser multimídia se quiser pagar as contas com sua ficção.
L.B: Raramente haverá chances de surgir novos escritores já que as editoras só investem num escritor que já é nacionalmente conhecido. Como você vê isso, sendo que os escritores inéditos não encontram chances no mercado editorial?
Bonassi: Lamentável. As grandes editoras deviam ter uma linha de inéditos, mas só os pequenos fazem isso. De todo modo, hoje em dia é muito mais fácil publicar do que há vinte anos. As pequenas e médias editoras são uma ótima porta de entrada da nova literatura.
L.B: Qual a sua opinião sobre o estilo "Literatura Marginal"?
Bonassi: A boa literatura sempre foi marginal à sua época. Só não podemos vestir a camisa do marginal e sair praticando literatura careta. Marginal também, precisa ter estilo próprio, clareza e verve poética.
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