18 abril, 2005

Mais textos!

Catador
(Por Gilberto Bastos)

Cata no chão um papel. Altura mediana, pés descalços, olhar febril.
Cata uma história recente, o homem de olhar Brasil.
Lata de lixo, solidão, vira e mexe a cada esquina da exclusão.
Criança coberta de fome come restos de um produto capital burguês.
Não adianta lamentar a sina do catador. O egoísmo é celebrado.
Não me venha com olhares de pena, o que pensas ao ver um cadáver?
Os pés rachados de um homem como vocês, põe a luta e a dor lado a lado.
Um panorama de infelicidade que consome a dignidade do ser.
Esperto o anônimo molha sua carroça-cruz pra dar valor a sua posse.
Vende ao ladrão da reciclagem, que recebe a conta-gotas seu suor.
Bebe um trago de satisfação, alimenta sua prole e vai a luta. Sua sorte.
Cata no chão mais um papel. Altura mediana pés ainda descalços, olhar febril.
Cata uma história eterna, catadores, ambulantes. Moradores de rua,
poetas errantes, que vivem jogados nas esquinas desse país senil.

Gilberto bastos jr.
poeta e ativista comunitário
em breve lançará o livro: Num barraco pras estrelas
contato:
gilbertobastosjr@uol.com.br
fone: (83) 264 6880/9998 6249



GUILHOTINA

(Por Santos da Rosa)

Lua sorrindo
Roçando as pontas
dos saltos
suicidas

Se um dia tua guilhotina
Varrendo as antenas
Endurecendo a lama
Acima de punhetagens e calmantes.

Lua pontiaguda
a névoa só deixa teu espinho
Te sabias só minha,
preso a uma vaidade insossa
a uma cultura xarope
Te dividindo com todos os outros
desequilibrados

Tua simpatia
cala lamúrias egoístas
do nosso imenso dialeto
Mas esta névoa é que te descobre
acima da folia e do esterco

Lua pontiaguda

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