08 abril, 2005

O LIVRO!

Trecho do Capítulo 18 do livro “Graduado em Marginalidade”, do escritor Sacolinha, que estará em breve nas livrarias...

Á noite na prisão todos dormem, exceto Vander. Assim como Graciliano Ramos, Burdão é um cupim do edifício burguês onde aplicam inseticidas.
Depois dessa última notícia, a resignação de Vander foi pro ralo, junto com seu cuspe seco e crucial. O ódio que estava crescendo há muito tempo, agora transbordou. Com a luz da cela apagada e a trilha sonora saindo da boca de um cachorro, Vander reflete. Recorda a morte do seu pai, da sua mãe e o sofrimento que ela teve antes de morrer.
Relembra a chacina que houve onde as vítimas eram Escobar e seus cinco ajudantes. Pensa na desgraça de dona Carmem e seu filho Teddy. Reflete a morte de Vladi, Catinga e alguns outros. Por fim, a sua herança que foi consumida pelo fogo.
E a Vila? Não é mais a mesma, os botecos não são mais botecos, e sim inferninhos, lanchonetes da boca. Burdão pelo menos podia refletir a situação. Se estivesse em casa, iria comparar o mundo lá fora e a sua reflexão lá dentro. Mas como está privado de liberdade, compara o mundo com o seu interior. Sem emprego, pai e mãe. Havia sua tia lá em Jabaquara, mas pedir ajuda a uma mulher que não veio no enterro do próprio irmão?
Aí não dá, Burdão agora faz parte dos “sem”: Sem auxílio, sem chance, e sem porra nenhuma. Mas reflete.
Lá fora há o ser humano que pratica os sete pecados capitais. Também tem a polícia que fede á podridão. Traficantes, prostitutas, armas, corrupção, drogas, crianças abandonadas, políticos safados, mendigos, jovens grávidas e... A morte.
No seu interior?

Bom, antes tinha amor, humildade, pensamentos positivos, conselho, confiança e compreensão. Mas isso era antes, por que hoje, neste exato momento, há o ódio em pessoa.

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Sobre choro e nó na garganta

Trecho do livro "Dente-de-leão: a sustentável leveza de ser" - Escritor Sacolinha