03 abril, 2005

Literatura Negra!

O Livro “Cadernos Negros” é um projeto literário onde o objetivo é levar pra sociedade a literatura negra. Em parceria com o movimento negro “Quilombhoje” e com o governo federal o “Cadernos Negros” é lançado uma vez ao ano, sendo um ano só com poesias e o outro só com contos.
No momento está no volume 27. Este ano será de contos, qual será lançado em dezembro.
Confira abaixo algumas poesias dos Cadernos Negros.

De quatro, Zeus figura em (ex)cultura nativa o(culto) orixá Exu vai comendo-lhe o cu (Márcio Barbosa - CN 13, p.46)

"Tesão"
Teu falo é um facho Fascinante. Eu me encrespo Sempre... Teu Facho é um fato Irreversível! (Regina Helena da Silva Amaral - CN 9, p.32)

Ejacoração
Quando tua ausência se multiplica em dias eu me divido em saudades consciente ou não e de resto sobram poemas quando a vida devolve oficialmente tua presença o coração dá voltas e dispara ejaculando promessas de amor (Jamu Minka - CN 5, p.32)

Luz na Uretra
O coração na cabeça do pênis sístole e diástole sou-te na vagina e num vôo riacho espalho-me via láctea no teu infiníntimo. (Cuti - CN 9, p.120)






PRECISÃO
(Allan Santos da Rosa)


Uma mulher
que me incentive a criar
quando sorrir e quando chorar
quando dormir e quando suar.
Que seja o entrelace de escultura e desenho,
balé e candomblé.
Que seja meu partido político, minha televisão,
meu futuro caindo em pétalas.
Com quem faça grandiosos planos
e na hora do vamo ver
me diga que tá com preguiça,
piscando e me ganhando.
Que faça minha barba, aceite minhas flores,
meus tremores, minhas colagens
e rasgue meus piores poemas.
Que me vire a cara por dois dias
se eu não botar a caneta no caderno que ela me deu.
Que ao ver os homens lindos da ruas,
pouse as mãos entre as coxas e sussurre meu nome.
Ou o nome com que batizou meu falo.
Uma mulher sem dinheiro,
para ficarmos ricos por uma semana
juntos, na praia.
Que se aninhe em meu colo,
após me fazer sentar e ouvir o vinil.
Que não use relógio
e que ferva sua vaidade em tabletes.
Que começou a trabalhar cedo e me conte histórias
do centro e do subúrbio.
Que viaje sem mim e que volte com braços enormes
e sorrisos salgados.
Que mora dentro de mim, nos meus guetos distantes,
e que por vezes aflora em meu cheiro.
Que componha ladainhas pro meu berimbau,
movimentos pro meu corpo.
Que me dê paçocas e incensos.
Uma mulher que conceda a graça de ir embora
sem que o sangue das minhas veias entre na contramão.

Allan Santos da Rosa, participa da revista Literatura Marginal ato III, é alfabetizador de jovens e adultos no núcleo de consciência negra da USP.

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