20 março, 2006

Sobre a GUERRA

Sobre leões, falcões e passarinhos!
Sérgio Vaz

Na semana da Bienal do livro de São Paulo muita coisa aconteceu, e apesar da importância dos livros aprendi muitas coisas com a vida, mãe de toda sabedoria. O escritor Alessandro Buzo, parceiro de várias batalhas, convidou-me para lançar o livro “A poesia dos deuses inferiores”, no estande da febem. Lá, onde ele infantemente organiza uma oficina poética com os internos da instituição. A poesia como ferramenta consertando um ser humano, que conserta a vida, essa, que já vem com defeito de fabricação. Nada mais divino que ser útil na terra. Pensei “o céu pode esperar”. Ao chegarem percebi-os enquanto recitava um poema. Todos jovens e levemente alegres, talvez pela liberdade efêmera ou quem sabe somente para confundir os sábios e deuses das estatísticas. Lembrei-me dos leões que caçam livre pela selva africana e fui devorado por uma angústia que parecia raiva, mas era angústia, ao vê-los ali, uniformizados, como quem nasce em cativeiro. O olhar de quem está livre dói na alma e nenhum poema é capaz de captar esse instante. Então a poesia não serve pra nada? Sei lá. Mas peito de poeta também dói. À noite assisto ao documentário do MV Bill e Celso Athaíde, Falcão –meninos do tráfico, produzido pela CUFA – Central Única das favelas, e lá vem novamente esses meninos invisíveis com sua dores que a gente finge que não vê e se orgulha tanto de não ter nada a ver com isso. Portando um fuzil ou uma pistola são grandes bandidos, mas ao serem perguntado se gostariam de sair dessa vida, os falcões, pareciam passarinhos ao responderem, mesmo estando ao lado da arrogância de uma arma. Mas falcão, passarinho, tanto faz, voar pra onde? Outro queria ser palhaço, o que carregava um fuzil com nome sem graça. Dá para acreditar, o sonho do portador da tristeza era alegrar o próximo, esse mesmo próximo que anda tão distante? Alguma coisa está errada com o respeitável público que freqüenta os camarotes do circo. A ironia dos livros diante dos nossos olhos. A humanidade na corda bamba e a realidade equilibrando-se no trapézio. Que trágico espetáculo.
Por favor, fechem as cortinas!

Sérgio Vaz é poeta e criador da Cooperifa (Cooperativa Cultural da Periferia).
Mais informações:
www.colecionadordepedras.blogspot.com

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