São Paulo, 452 anos.
Sergio Vaz
Mil graus na terra da garoa São Paulo é uma cidade no cio. Por isso, transa com todo mundo e em todos os lugares. É bonita porque é feia, e como toda feia que se preza, beija mais gostoso. Que os Vínicius me perdoem, mas feiúra é fundamental. Do alto do prédio ou na superfície da alvenaria, a cidade dói nos olhos dos inocentes que transitam nas calçadas. De onde eu a vejo, minhas retinas são seletas e de como eu a vejo, as esquinas são espertas. A cidade de São Paulo, que está no mapa, não é todo daquele tamanho, muita gente já tirou um pedaço que falta na mesa do jantar. Ou levou pro fundo do mar ou depositou em conta corrente, que nada contra a corrente, de quem ama esse lugar. Essa maçã mordida que a massa não come, constrói o luxo que alimenta o lixo escondido debaixo do tapete. Essa cidade não é minha e não devia ser de ninguém, mas ela existe, e todo ano faz aniversário. Longe do estupro a céu aberto eu costuro meu poema sobre a torre de babel, que samba o rock triste, deste carnaval de concreto e de garrafas fincadas no chão. O cartão postal do meu coração não despreza o centro, nem esconde a periferia. São Paulo pra mim é pagode com feijoada nos botecos enfincados nas ladeiras. É samba da vela e samba da hora na segunda feira. É o sarau da Cooperifa no quilombo da piraporinha, onde a poesia nasce das ruas sem asfalto. É comprar livros nos sebos e ensebar nos bancos da praça. É ler caros amigos e Becos e vielas dentro do ônibus ou na fila de espera. É ser Um da sul, da norte, da leste ou oeste. É participar do favela toma conta, no Itaim paulista. Ou dançar samba de côco no panelafro. É jogar futsal nas quadras das escolas públicas, quase abandonadas pelo alfabeto. É conspirar tomando cerveja gelada no bar do Zé Batidão. É Carolina de Jesus de Jéferson De, saindo da tela. É as mina de vestidinho e chinelo de dedo no churrasco em cima da laje. É a rapaziada nos campos da várzea de canela em punho. Ser preto ou branco, mas principalmente verde. É o ensaio da vai-vai e das outras escolas. Ouvir Belchior na voz do ceará. Comer peixe na barraca do Saldanha. É Levar os espinhos na Casa das rosas. É não ouvir cd pirata nem original, quando o mesmo for caro. Ser enquadrado somente pelas lentes do Marcelo Min, QSL? É ser ¿nóis vai¿, mesmo quando a gente não for. É Falar errado, mas agir correto. É encontrar sempre as mesmas pessoas no muro das lamentações. É Empinar pipa nos dias sem vento. É ser mil graus na terra da garoa. É ser os quatros elementos se juntando a outros elementos. Enfim, São Paulo, é isso, mas também tem outros lugares.
Sérgio Vaz
poetavaz@ig.com.br
www.colecionadordepedras.blogspot.com
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