24 janeiro, 2006

Conto...

Vale a pena ler de novo!

Íntimas e bêbadas
(Marcopezão)

Paula e Andressa cursaram o colegial e amizade intensa brotou em comunhão. Embora tenham escolhido faculdades diferentes, ambas prestaram cursinho e optaram pela mesma universidade. Desde essa época tornaram-se cúmplices quanto aos direitos feminis, e politicamente exerciam pensamentos esquerdistas sempre almejando a revolução, ainda que fictícia, a tomada do poder em prol dos menos favorecidos.
Terminado os estudos, Paula formou-se em Sociologia e Andressa diplomou-se em Direito Criminal. Devido às dificuldades de emprego imediato resolveram lecionar e conseguiram algumas aulas em uma escola, na zona leste da capital paulista.
Um dia, num barzinho de classe média, em Pinheiros, conheceram dois amigos também professores, e o relacionamento entre os casais acalentou enorme paixão. Depois de certo tempo, noite de sábado, quando reunidos na mesma curtição, como normalmente faziam, o duplo pedido de casamento fez crescer ainda mais o sentimento mútuo.
O consentimento veio selado por beijos apaixonados, porém, uma ressalva ficou esclarecida. Elas exigiam que, ao menos uma vez por mês, teriam liberdade de encontrarem-se sozinhas; resguardando, assim, o direito de mulheres livres e independentes.
O dúplice matrimônio não demorou acontecer, sem pompas maiores. Após a viagem de lua de mel, o prosseguimento das atividades e o bom relacionamento constante davam mostras de planejamento familiar. Os filhos viriam quando a situação econômica estivesse mais sólida.
Passado um ano de feliz convivência e respeito, Paula e Andressa mantiveram o combinado. Com regularidade percorriam a cidade paulistana indo a bairros longínquos, sempre com atenção voltada ao desenvolvimento. Em certas ocasiões, porém, o empobrecimento que tomou conta da periferia às deprimia e em algum bar desabafam toda sorte de críticas à sociedade dominante e a política de globalização. Mas, na maioria das vezes, bebiam pela alegria de viver, e pela felicidade encontrada cada qual em seu marido, que, até então, respeitavam o direito adquirido; não sem sentir uma ponta de ciúmes, pois, claro, trata-se de duas belas e fogosas mulheres. Mas, definitivamente, não havia sombra de leviandades nas atitudes. Elas empunhavam a bandeira feminista, sem deixar de serem femininas, e, com certeza, adoravam tomar um pileque.
Um dia, a trajetória às levou para as bandas da Vila Formosa. Se por prazer ou depressão, não se sabe, o fato é que as duas exageraram nas cervejas e caipirinhas. As horas passaram e ao darem conta os ponteiros do relógio marcavam meia-noite.
Andressa, se dizendo mais sóbria, assumiu o volante do carro. Dez minutos depois, a irresistível vontade de urinar às incomodou no ponto de desespero. Decidiram estacionar e quando desceram, perceberam que estavam à frente do maior cemitério de São Paulo. Íntimas e bêbadas caminharam até um portão e, que, ocasionalmente, estava entreaberto. Na escuridão plena entraram, e ao lado de um túmulo desaguaram. Andressa, ao terminar, usou a própria calcinha para se enxugar e limpar os respingos que atingiram as coxas.
Paula, de cócoras, demorou mais no ato. Viu que a amiga jogara fora a calcinha usada e sorriu zonza olhando sua lingerie, lembrando que o esposo adorava essa peça. Então, sobre o mausoléu, pegou uma fita da coroa de flores e secou-se. Desajeitadamente foram embora.
No desenrole aconteceu o seguinte: por volta das 9 horas da manhã os maridos falaram-se ao telefone:
-“Alô, Agenor! Porra, acabei! Porra, acabou meu casamento! Andressa chegou em casa de madrugada, embriagada e sem calcinha!”
-“E eu Carlão, e eu Carlão? A Paula me aparece às duas horas da manhã, com uma faixa presa na bunda escrito assim: - Jamais te esqueceremos – João, Paulo, Lucas e toda a turma da faculdade! - Não deu pra segurar, quebrei ela de porrada!”


Marcopezão é um dos maiores escritores da cidade de São Paulo, mas mesmo assim faz parte do time dos escritores ignorados pelas editoras.

Indicação da semana!

Dedo-duro e meninão do caixote
(João Antônio)


É uma obra onde você encontra os contos do excelentíssimo senhor João Antônio. Contos como: “Tony Roy Show”, “Milagre chué”, “Excelentíssimo”, “Uma memória imodesta no coração da pouca vergonha”, “Paulo melado do chapéu mangueira serralha”, “Bruaca”, “Frio”, “Lambões de caçarola”, “Bolo na garganta” e o título que dá nome a esta obra.
São dez contos suburbanos escritos por quem foi personagem desse mundo de horrores.
A crítica está bordada com linha corrente, porém, só quem vive nesse meio para entender. Jamais João Antônio foi perseguido por suas críticas. Precisa dizer o por quê?

Querô – Uma reportagem maldita
(Plínio Marcos)

Uma estória suja, totalmente marginal, onde os personagens não ocupam bancos de teatros e nem poltrona de cinema. Um livro limitado ao mundinho de uma essência mundana.
Uma obra de fácil leitura com linguagem totalmente humilde e sem censura alguma. Uma literatura sem papas na língua.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Sobre choro e nó na garganta

Trecho do livro "Dente-de-leão: a sustentável leveza de ser" - Escritor Sacolinha