Acorda brasileiro
Marco Pezão
Cultura é
O que se planta dá
Semente germina embrião
Terra ar sol água
Ato modo efeito
Comportamento
Arroz feijão trigo pão
Cultura é
O que se planta dá
Crenças valores espírito matéria
Complexo padrão esforço apuro esmero
Cultura é
O que se planta dá
Elegância criação
Relativo próprio coletivo
Aprimoramento
Flor fruto
Semeia colhe come
O que se planta dá
Cultura é
Característica gente
Nação país progresso
Bisturi colher de pedreiro
Colarinho animal
A sociedade deve desenvolvimento
Cultura é
O que se planta dá
Microscópio sistema
Poesia húmus
‘Em berço esplendido
Deitado eternamente’
Acorda brasileirooooo!
Cresce cresce cresce cresce
Ação no palco da vida
Cultura é
O que se planta dá
Tardes de outono em mim marcadas
Marco Pezão
Caminhamos abril, e procuro algum cheiro. O suave cair de uma folha. Uma brisa que estampe certo frio quando o sol se põe. O tempo traz mudanças em seu bojo. A estação de outono tem hálito diferente. E parece que sinto, reconheço, mas a impressão é feito lembrança a passar, e a passar.
Tardes de outonos em mim marcadas. E porque tardes e não manhãs? Manhãs, como este dia claro a prenunciar o sol. Que, na balada do meu andar, envolve-me em fragrâncias a percorrer exatamente uma hora de percurso. O tempo recomendado para pensar no corpo. Esvaziar a mente, sentir a gota de suor escorrer da testa e rolar na superfície do nariz.
É outono, e o calor toma de assalto reinício de partida. Caminhemos. Trotemos pausadamente impulsionando o solado do calcanhar para depois articular a frente do pé em próximo golpe. Direito. Esquerdo.
Vejo bifurcação. Sigo a direita ou esquerda? À direita, asfalto longo que leva a lugar nenhum. À esquerda, duas pequenas árvores fracas e sinuosas. Caminho de terra. Inspira e não transpira confiança.
Atalho e o cimentado estende à beira do riacho. Sou demagógico ao chamá-lo de riacho. Hoje escorre em seu leito, excremento. Mas conservo dele braçadas em água límpida e particular envolvimento.
Tardes de outono em mim marcadas.
E porque não desmarcá-las já que sinto a tomada de ar puro invadindo meus pulmões. Uma volta completa na praça e os ponteiros cravam vinte minutos. Adiante. Continuemos a trotar.
Ao redor envolvo quadra de dimensões antiga. A extensão do terreiro avança em arvoredos. A casa em seu estilo. Meu olhar passeia na simplicidade e feitio da construção. Construção de uma época. Varanda, cumieira. O que restou da chácara. Quantas histórias habitam em paredes caiadas, de tijolos nascidos do barro de próxima olaria?
Cerca em rede de arame. Chuchuzeiro enlaçando o fio. O formato de caramanchão. Vivas aves. Patos ou marrecos? Como distinguí-los?
Um galo. Galinhas vermelhas. O frango branco, sim. Ciscando e conversando entre si o linguajar de olhares neutros. Passo, e eles passam. E os meus passos giram a esquina.
Tardes de outono em mim marcadas. Sintam o brilho que o meu rosto reflete. Eu vivo. Pensamentos contraditórios à sombra projetada no chão que indefinidamente comigo caminha, eu digo: Que venha o inverno!
E mais adiante a primavera. E que minhas passadas se alonguem em outro verão. E os passarinhos. E as cigarras já tão ausentes. E o amor furtivo, quem sabe, se aproxime vindo de um beco qualquer.
Tardes de outono em mim marcadas: fazei-me alcançar o amanhã das tardes de outono em mim marcadas...
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