01 maio, 2008

NOVA POESIA

NO LEITO

Deitado nesta cama
De coma, debilitado, todo estourado.
Minha noiva por este mundo
Escorando muro
Já arrumou outro namorado
Com toda a certeza
Para ela
Desta não saio vivo
O que resta é só rezar
Meu pequeno primo
Nem se lembra que estou aqui
Por causa da pipa que fui comprar
Para soltar-mos juntos
Eu sei que ele não tem culpa
Do freio ter acabado
Naquela bendita ladeira
Por fim além do carro
Eu também fiquei todo estourado
A vida dele continua
Brincando com a garotada
A vida é engraçada
Os dias passam.
Nesta cama
Semanas parecem meses
Lembro-me de tantas coisas
Que não dava tanto valor
Sol, chuva, ventania.
Praia, beijo na boca.
Que delicia
Um abraço em minha noiva
Neste instante tudo o que eu mais queria
Minha eterna namorada
Mas eu aqui, encima desta cama.
Na base da agulhada
Minha bunda
Minhas costas
Todo meu corpo
Já esta virando uma ferida só
Não adianta tirar os curativos
As feridas só aumentam
De tanto ficar deitado
O medico disse para minha mãe
Que meu pinto
Não tem mais jeito
Foi estrangulado, esmagado.
Depois de ter caído o muro encima do carro
E sobre meu corpo
Minha mãe é muito chorona
Meu filho, doutor.
Reabilite-o, por favor,
Se for preciso de um choque em sua mente
Pensei que ele ia me dar muitos netos
Senhora
Seu filho pode até se levantar
Do choque que posso dá
Mais seu pinto
Para cima nunca mais vai olhar
A tristeza tomou conta de minha mãe
Um homem sem pinto
É melhor que a morte o carregue
Minha mãe sai triste pela porta do meu quarto
Depois de ter dado um beijo em minha testa
E feito uma oração
Lagrimas descem do seu rosto
Mãe é mãe nessas horas
E só assim que damos valor
Daqui de cima vejo todos
Em volta de meu corpo
Não sinto mais dor
De vezes em quando
Fico do lado do meu próprio corpo
Olhando para mim mesmo
Todo estourado, entubado.
E digo como estou feio
Dou risada de minha própria desgraça
Só estou à espera que desliguem os fios
Que estão me mantendo vivo
O gasto de um morto vivo
No hospital sai muito caro
Já têm outros na fila
É questão de tempo para ser desligado
Fico triste por minha mãe
Sei que só por ela serei lembrado
Sinto uma revolta
Se não fosse aquela bendita pipa
E do meu pequeno primo
Eu não estaria aqui
Estaria era curtindo minhas férias
E minha noiva
Escuto um estrondo
Calma senhor
É só brincadeira
Sei que tudo tem um propósito
Calma ai senhor
Descuidei do meu corpo
Já volto
São os médicos
Tentando-me reanimar
Olho no aparelho
Que esta do lado de minha cama
Com alguns gráficos
São meus batimentos cardíacos
Tun, tun, tun, tunnnnnnnnnnnn.
Os médicos correm
Aplicam algo em minha veia
Dão eletro choque em meu peito
Não tem jeito
Os médicos.
Me cobrem ,olham no relógio
Horário da morte
23h, 30minutos
Avisem à família
Em minha antiga casa
O telefone toca
Minha mãe chora
Eu estou perto dela
Em espírito
E também choro
E ela grita
Meu filho.


PAULO PEREIRA
ASSOCIAÇAO CULTURAL LITERATURA NO BRASIL
paulo.pereira13@isbt.com.br

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