07 maio, 2008

Soco...borto...não

Socorro!
Ajudem-me:
Por favor!
Ah!... - quem sou ?
Sou...ou...ou...ou...
É; me chamam espermatozóide.
Não...ão...ão...
Não é o esper,
Que matou a zóide,
É espermatozóide.
Sabem?
Eu encontrei.
O quê?
Ah! uma namorada.
Quem?
A tal de célula.
Não... - não é célia,
É célula!
A célula mater,
O óvulo... - sei lá!
É tão estranho né?
No início... - oh!
Eu nem a via.
Também pudera.
Havia um túnel,
Um corredor, e,
Depois dele uma cverna!
Era um túnel com calor,
Mas, sem lucerna,
E ali eu me mexia.
Então, jamais pensara,
No meu falar uníssono,
No meu impar colóquio,
Lá na trompa para onde eu ia,
Que trompa... - a uníssona,
A do tal Gabrielle Falópio.
Ouço vozes a outros silenciosas,
Que do coração se me entona,
E, então, juntos caminhando,
Ante um superfície esponjosa,
De uma parede de progesterona,
Vamos nós, ali, nos fixando,
É...é...é...é...
O nosso quarto é quente,
E, é tão aconchegante!
E, é antes um protótipo,
Sim, mas é da gente.
Entrementes, querem nos expulsar,
Tomam um comprimido de Genecocide,
E, também, um chá de canela,
E, nós, ali, como falar?
Se somos mudos, e, a nós não há revide,
E, sobre nós, a decisão é dela.
É... - o tempo urge e passa,
Lento, açli, na estranha espécie de porto,
E, ela e eu seguimos vendo,
Ao vento fugir a desgraça,
Da triste ameça do aborto,
Enquanto, ali, vamos crescendo.
Decorrem onze ou doze luas minguantes,
E, se temos a vida somente Deus a toma,
Espermatozóide, óvulo... - o quê?
Já não somos, agora, o mesmo d'antes,
Pois, ela e eu, antes parcela, somos a soma,
E o total é um bebê!

Sobre choro e nó na garganta

Trecho do livro "Dente-de-leão: a sustentável leveza de ser" - Escritor Sacolinha